O paradigma da inovação tecnológica é uma ameaça para a eSaúde 

Entrevistas

Por Fernando Iván Gámiz

Pedro Galván é especialista em transferência tecnológica e atualmente lidera a coordenação técnica do Sistema Nacional de Telemedicina do Ministério de Saúde Pública e Bem-estar Social do Paraguai. Em seu papel de engenheiro biomédico, participou em publicações da Organização Pan-americana da Saúde (OPS/OMS) e colaborou com o Departamento de Dispositivos Médicos.

Em diálogo com a E-Health Reporter Latin America analisa a primeira etapa de implementação do projeto de saúde intercomunicada, que brindará serviços de tele-eletrocardiograma, tele-ecografia, tele-tocografia e tele-tomografia. Além disso, conta os benefícios e desafios que implica realizar um sistema de telessaúde nacional.

Que aspecto diferencial o software de aplicativo selecionado pelo Minsa possui para efetuar os serviços de telemedicina?

O software de aplicativo do nosso Sistema Nacional Telemedicina (SNT) foi desenvolvido à medida pelo Departamento de Engenharia Biomédica e Imagens do Instituto de Investigações em Ciências da Saúde da Universidade Nacional de Assunção (UNA) e está contextualizado às necessidades do usuário local e aos requisitos do Ministério de Saúde. Os outros softwares de aplicativo foram descartados pelo custo das licenças e porque começamos com um orçamento mínimo na implementação.

O ministro de Saúde Pública e Bem-estar Social, Antonio Barrios, afirmou que este projeto chegará a todos os lugares onde exista conexão à internet. O sistema incluírá as zonas rurais?

As 18 Regiões Sanitárias do Ministério de Saúde contam com serviços de internet em seus hospitais. Em 2014, durante a primeira etapa de implementação, serão inclusos os 20 hospitais distritais mais importantes de Paraguai. Durante essa implementação, serão utilizadas conexões de internet com uma banda larga de 2 Megabps. Desta maneira, com a inclusão de todos os centros regionais, garante-se a oferta de serviços de Telemedicina nos hospitais cabeceira da Rede Assistencial. 

Calcula-se que em menos de três meses o serviço de telemedicina estará habilitado nos hospitais regionais, quando finalizará o processo de implementação? 

Segundo o cronograma de implementação, o serviço já foi habilitado em três hospitais regionais, com uma média de três hospitais locais por mês. Durante o presente ano serão implementados na totalidade dos hospitais das regiões e em dois hospitais distritais estratégicos para o Ministério de Saúde. Como este projeto é de cobertura nacional, cada Região Sanitária contará inicialmente com o serviço através de seu hospital regional. E logo, na segunda e terceira fase, serão inclusos os demais centros de saúde. 

Como capacitam os profissionais dos hospitais que serão incorporados ao sistema?

A capacitação dos usuários do Sistema de Telemedicina é realizada mostrando e praticando o uso e transmissão da informação por médicos e técnicos da equipe de Telemedicina, e são apoiados logo por meio de ferramentas de Tele-Formação ou e-Learning como Elluminate ou Moodle, que estão montadas sobre a plataforma de Telemedicina do Ministério de Saúde.

No final de dezembro foram realizados pilotos na cidade de Fuerte Olimpo, quais resultados foram obtidos?

No Hospital Regional de Fuerte Olimpo foi possível ajustar o mecanismo de telecapacitação e também provar o mecanismo de transmissão de imagens utilizando ferramentas de compressão para diminuir o tempo de transferência à menor largura de banda de internet. Em síntese, a metodologia testada e validada foi a de «»store and forward»», com excelentes resultados em ecografia e electrocardiografia.  

Na hora de adaptar-se às novas tecnologias, uma das maiores inquietudes dos profissionais e diretores de centros médicos é brindar um serviço seguro para a privacidade do paciente, que garantias o sistema oferece?

Todos os aspectos éticos, de confidencialidade, qualidade e segurança  – tais como informações criptografadas, utilização de códigos de acesso por nível hierárquico, codificação das identidades do paciente, etc.- estão garantidos pelo Sistema de Qualidade de Telemedicina, que por sua vez será validado por expertos europeus em telemedicina; este ano realizarão duas avaliações.

Que outras fases de implementação serão concretizadas em médio prazo?

Na segunda etapa, que está prevista para 2015, espera-se incluir os centros de saúde e cargos de saúde relevantes em todas as regiões sanitárias. Isto será possível uma vez que se realizem as avaliações de custo-utilidade e custo-efetividade previstas. E na terceira etapa pretende-se incluir a mais de 1.500 Unidades de Saúde Familiar, para que os cidadãos de qualquer comunidade tenham acesso direto ao Sistema de telemedicina através de um tablet.

Em que soluções tecnológicas o Ministério está trabalhando?

As soluções tecnológicas previstas são: teleformação contínua de profissionais da saúde em nível nacional para apoiar diversos eventos em forma protocolizada e com qualidade; telediagnóstico laboratorial para conectar em rede a todos os laboratórios de saúde pública; telemicroscopia para o diagnóstico em citologia; telecuidado de pessoas da terceira idade para promover uma velhice saudável, produtiva e ocupada; e uma solução para telemonitoramento de pacientes durante o traslado em ambulâncias.

A que prós e contras o arco político enfrenta quando propõem projetos como o SNT?

O projeto de Telemedicina forma parte do Programa de Governo e, em consequência, conta com o apoio de todos os níveis hierárquicos. No entanto, existe uma ameaça: o paradigma da inovação tecnológica e de hábitos de trabalho em certos setores dos profissionais da saúde. A fim de garantir o sucesso em sua implementação, este paradigma deverá ir superando-se e contextualizando-se às ferramentas desenvolvidas. Também existem grupos de interesse que podem ser um obstáculo na hora de realizar os estudos e utilizar o sistema. Mas em conclusão, apesar da conjuntura política positiva, para garantir o sucesso do Sistema Nacional de Telemedicina haverá que avaliar outros aspectos, como a sustentabilidade técnica-orçamentaria e o empoderamento dos profissionais da saúde afetados.

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