O desafio para os próximos dois anos é desenvolver padrões de qualidade

Entrevistas

Por Daniela Chueke

Com uma experiência de 20 anos no setor público de saúde brasileiro e outros dez anos no setor privado, atualmente, Lincoln Assis Moura desempenha-se como consultor independente e como docente de cursos que apontam ao desenvolvimento da visão estratégica na implantação de Sistemas de Informação em Saúde.

Eleito recentemente presidente da IMIA- International Medical Informatics Association, ostenta o orgulho de ser o primeiro mandatário da Associação procedente da América Latina.

Ehealth Reporter Latin America: Quais os desafios que implica ser o próximo presidente da IMIA?

Lincoln Assis Moura: Até o momento sou presidente eleito e meu mandato começará em 2013 e estender-se-á por dois anos. O principal desafio do presidente da IMIA é coordenar as ações que levem a Organização a alcançar seus objetivos estratégicos, principalmente ser reconhecida como uma organização de ampla presença internacional, capaz de contribuir para que a Informática na Saúde seja utilizada para melhorar a saúde da população. Sendo latino-americano tenho o objetivo pessoal de ajudar a nossa região a desenvolver-se como um pólo de Informática em Saúde.

EHRLA: Que tipo de oportunidades essa nomeação traz para o Brasil e para a região?

LAM: Inúmeras! Em primeiro lugar, a eleição de um latino-americano representa por si mesma um reconhecimento do potencial da América Latina e serve de estímulo tanto para o Brasil como para os países da Região. Além disso, temos também o fato de que o Medinfo de 2015 será realizado em São Paulo. Essa será uma oportunidade única para que tenhamos uma participação muito significativa de estudantes e investigadores da América Latina nesse importante evento. Essa será uma oportunidade excelente para atrair alunos de graduação e de pós-graduação para a nossa área de desenvolvimento. A demanda de profissionais de Informática em Saúde vem aumentando em nossos países e já é hora de que todos nós possamos oferecer uma formação de qualidade para os profissionais de TI em Saúde.

EHRLA: Qual é, de acordo à sua experiência, o estado brasileiro que possui os sistemas sanitários melhor desenvolvidos com relação à implantação de TIC?

LAM: No Brasil existe diferentes iniciativas públicas e privadas que são referências excelentes para o país e para o mundo. Eu, pessoalmente, lamento que, em geral, a integração entre as diversas iniciativas seja pobre. O Brasil poderia contar com excelentes Sistemas de Informação em Saúde se as nossas ações fossem mais integradas.

EHRLA: Refere-se às integrações relacionadas com a interoperabilidade?

LAM: Exato, entre outras coisas, a interoperabilidade hoje é a questão principal. Se considerarmos que os diversos sistemas existentes em qualquer de nossos países sobreviverá e que a diversidade é algo bom, só nos resta pensar em meios de fazer com que os sistemas logrem conversar entre si de forma adequada. O segredo para que a interoperabilidade exista está nos standars. Um dos maiores desafios dos dois próximos anos será desenvolver, rápida e efetivamente, standars de qualidade para a Informática em Saúde.

EHRLA: Quais são os casos exitosos que merecem ser destacados no Brasil?

LAM: Eu gosto muito do projeto do Siga Saúde, por um lado porque fui responsável da direção do projeto, mas também porque o mesmo incorpora a noção clara de “blocos fundacionais”, como os registros de pacientes, profissionais e estabelecimentos de saúde, baseados em identificações unívocas. Esses registros são compartilhados entre aplicações internas e/ou externas, fato que garante em si mesmo um nível excelente de interoperabilidade.

O programa Mãe Paulistana, que usa o SIGA Saúde, é um exemplo genial do que se pode obter quando se consegue implantar bons processos apoiados por bons sistemas de informação. Os criadores do SUS-Sistema único de Saúde- na cidade de São Paulo, contam com acompanhamento e serviços de qualidade, o que levou de fato à melhoria do atendimento das mães e dos seus bebês.

Também há iniciativas importantes como o Programa Telessaúde Brasil Redes que vem expandindo-se de forma a integrar os procedimentos realizados por Telessaúde como parte integrante do SUS.

EHRLA: Em que está trabalhando atualmente?

LAM: Basicamente em formação e capacitação de novos profissionais. Estou convencido que a capacitação pode trazer grandes benefícios para essa área. A SBIS, Sociedade Brasileira de Informática em Saúde, graças a um convênio com a COACH, a Associação Canadense de Informática em Saúde, conseguiu ampliar certos conceitos que poderão gerar um grande impacto de médio e longo prazo nos sistemas de informação dos nossos países.

EHRLA: Estará presente no congresso eSaúde &PEP 2011 em São Paulo?

LAM: Evidentemente. Essa é uma área de evolução muito acelerada e por isso acredito que é fundamental que os profissionais se exponham à influência externa, participando de eventos e sempre que for possível, submetendo o seu trabalho ao público internacional. O eSaúde & PEP 2011 deverá trazer grandes novidades. Estou muito entusiasmado com o proTICS, o programa de capacitação de Profissionais da Saúde que SBIS lançará durante o evento.

O nosso é um caminho que somente será exitoso se o fizermos juntos. Há um ditado africano que diz: “Se você quiser ir rápido, ande sozinho. Se quiser ir longe, vá acompanhado”. Acho que a nossa missão é irmos juntos, tão longe quanto possamos. Assim, a IMIA, a IMIA-LAC e as sociedades de nossos países são e serão o resultado do nosso trabalho. Somos donos do nosso destino.

 

 

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