Por Daniela Chueke
A Estação Clínica SIDCA , uma solução desenvolvida pela Everis para os Hospitais Universitários Virgen del Rocío do Conselho de Sevilha, Espanha, foi adquirida pelo Instituto FLENI por uma cessão de direitos por parte do Hospital Espanhol. O engenheiro Marcelo Martinez, gerente de Sistemas e Operações no FLENI, em conversa exclusiva com a Ehealth Reporter Latin America, compartilharam essa experiência.
Ehealth Reporter Latin America: A informatização da área clínica foi implantada antes ou depois da informatização das outras áreas do Instituto?
Marcelo Martinez: Foi o último passo. A área de sistemas começou a funcionar desde o ano 2000 com um grande desafio pela frente: o arranque do data center na sede de Belgrano e que requeria planificação e soluções em todos os aspectos, desde o equipamento aos servidores, os desktops e formar a equipe humana, e a instalação do centro de reabilitação em Escobar, que está funcionando desde o ano 2000.
EHRLA: E nessa época a sede de Belgrano possuía soluções informáticas eficientes?
MM: Não, nós também tivemos que implantar um sistema de gestão administrativa porque o que havia era obsoleto. Tivemos que mudar o rumo em direção ao jdEdwards que é um ERP que integra a contabilidade, compras, pagamentos a fornecedores, inventários, etc.
EHRLA: Também propuseram incluir a área clínica?
MM: Sim, mas não tivemos muito sucesso na época. Saímos para procurar uma solução de prontuário médico, fizemos uma pesquisa sobre o que havia no mercado, e assinamos um contrato com uma empresa fornecedora que não nos deu o que precisávamos. Depois surgiram os problemas econômicos do país, como o famoso «»corralito»» e tivemos que cancelar o contrato em 2003.
EHRLA: Vocês se resignaram em continuar com uma administração baseada em papéis e arquivos grandes?
MM: Naquele momento, o que decidimos foi resolver de forma interna toda a gestão de faturação na face administrativa, para o qual desenvolvemos um sistema denominado FactHos, que inclui a faturação, a gestão de pacientes ambulatoriais e internados, manejo de convênios, orçamentos, gestão de consultas, etc ..
Com o JD Edwards, com o seu módulo de inventário resolveu-se o problema da logística da farmácia, e o FactHos cobriu a gestão administrativa, já tínhamos conseguido resolver a informatização dos processos referentes ao negócio e ainda faltava informatizarmos a área médica, que continuava sendo gestionada através do papel.
EHRLA: Foi difícil consegui-lo?
MM: Sim, foi bastante difícil para nós. Víamos muitas propostas interessantes, mas que eram impossíveis de implantar devido aos custos elevados ou porque a nossa instituição ainda não estava madura para se aventurar neste campo. Não é a mesma coisa abrir as portas, como o Hospital Austral fez, já informatizado, que, em um lugar onde os médicos estão acostumados a trabalhar com o papel há anos, pedir-lhes, de um dia para o outro, que eles comecem a trabalhar com registros eletrônicos. Esse era um problema cultural que não podíamos ignorar.
EHRLA: Mas finalmente, conseguiram que os médicos fizessem parte da solução…
MM: Exatamente. Em 2010, depois de uma conversa que tive em um corredor com um médico do FLENI, o Dr. Roberto Lagos, e graças a ele que me contou sobre uma conversa que teve com um colega seu do hospital Virgen del Rocio de Sevilha sobre uma solução que eles utilizavam lá, entramos em contato com o hospital, mais precisamente com o Dr. Eduardo Vigil Martin.
Ali já tinham um modelo de prontuário médico eletrônico em execução que achamos que poderia servir para o que queríamos implantar. Fizemos uma viagem para a Espanha para avaliar o software e vimos que era adequado.
EHRLA: O Hospital de Sevilha mostrou-lhes o seu funcionamento?
MM: Sim, com uma grande predisposição para cooperar conosco. E isso foi uma grande ajuda porque é muito diferente ver uma apresentação de PowerPoint, onde tudo o que eles te mostram parece muito lindo, para ir a um hospital onde te abrem as portas e você pode conversar com as pessoas que trabalham lá: com os enfermeiros e médicos, e que eles te comentem o que eles acham úteis para realizar melhor a sua tarefa cotidiana e quais são os que as prejudica.
É interessante destacar a atitude excelente do Hospital de Sevilha, com o qual o FLENI além do mais, possui um relacionamento de afinidade muito grande em nível médico.
EHRLA: O que vocês decidiram então, após essa experiência?
MM: Pudemos ver que a implantação seria viável e que a interoperabilidade com o que já tínhamos em funcionamento seria possível. Este sistema possui um gerenciador de mensagens, o produto Ensamble da InterSystems, que permite comunicar-se desde sistemas que o requerem. Por exemplo, desde o FactHos, até o momento de um evento (uma admissão, a atribuição de consultas, alta, etc.), dispara-se uma série de mensagens para o SIDCA em tempo real, permitindo que o médico trabalhe assistencialmente no prontuário clínico eletrônico em tempo e forma enquanto atende o seu paciente.
EHRLA: Desde quando o novo sistema começou a funcionar?
MM: Logo após a aprovação do projeto pelo nosso Comitê Executivo, e a designação de recursos para sua implantação, começamos a primeira etapa de implantação em junho de 2011. Em novembro, um tempo recorde, já estave em produção com funcionalidades transversais à instituição.
EHRLA: Quais aspectos do processo ajudaram a alcançar essa meta?
MM: Pessoalmente eu acho que foi possível porque se formou uma equipe interessante, liderada pelo diretor médico. Eu acho fundamental entender que esses projetos vão além da área de sistemas, que somos um suporte e acompanhamos a evolução, mas é a ferramenta, finalmente, para aqueles que compõem a equipe de saúde que são quem as utiliza. É importante ter em mente que o objetivo deve ser facilitar o seu trabalho para o benefício do paciente. Felizmente, todos na instituição entendemos dessa forma.
Outro fator fundamental foi o trabalho com os médicos residentes, que pela sua juventude estão acostumados com o uso das ferramentas informáticas e perceberam rapidamente que a sua utilização na assistência ao paciente lhes permite trabalhar à vontade, ao otimizar os seus tempos e ao poder acessar o SIDCA em qualquer lugar onde estiverem dentro da instituição.
EHRLA: Contaram com ajuda externa?
MM: Sim, absolutamente. Durante o processo de implantação nos acompanharam desde a Everis Espanha, que é a empresa que desenvolveu a solução SIDCA e que a Junta de Andalucia nos cedeu. O Dr. Edward Vigil Martin colaborou ativamente com a implantação, quem foi o impulsor do SIDCA, e quem definiu os parâmetros que devia incluir-se ao prontuário médico. Também buscamos na Everis Argentina profissionais que pudessem se juntar para assumir os custos locais e continuar o desenvolvimento evolutivo. Assim conseguimos montar uma equipe local, com suporte da Everis Espanha, que passa seus dias trabalhando no FLENI e que está colaborando nas adaptações, modificações e nos novos desenvolvimentos. Ao contar com as fontes do SIDCA, podemos evoluir de acordo com nossas necessidades e peculiaridades.
EHRLA: Já está funcionando plenamente?
MM: Por enquanto não, já que não a implantamos em sua total potencialidade. O que fizemos foi definir 11 funcionalidades, também chamadas folhas, e privilegiamos as que são transversais aos cuidados de um paciente internado ou da evolução do consultório. O que nos resta para dirigir é o que tem a ver com temas específicos das diferentes especialidades. Por exemplo, o desenvolvimento de folhas de stroke (acidente vascular cerebral), esclerose múltipla, neurologia cognitiva, clínica da dor, etc.
O SIDCA já está integrado mediante o ESB FactHos com nosso Laboratório (Omega), Sistemas de Patologia e nosso RIS/PACS (Carestream), sendo estes geradores de informação complementar para o Prontuário Médico Eletrônico.
EHRLA: Quais os benefícios que esperam conseguir em longo prazo?
MM: A coisa mais interessante deste sistema é a possibilidade de exploração da informação de gestão de conhecimento. O SIDCA, além da geração de documentação clínica e o prontuário digital, possui um módulo Warehouse que permite, através da codificação da informação com códigos internacionais, tais como o ICD 9, gerar uma base de dados rica para obter informação e investigação. O bom deste produto é que seu alcance é ilimitado, permite integrar soluções até onde houver imaginação.