Por Rocío Mellas
Melhorar a segurança do paciente é um desafio de todos. De fato assim foi proposto o lema da 23ª Conferência Global da GS1, realizada de 23 a 25 de abril no Marriot Plaza Hotel. Entre os tópicos mais enfatizados destacam-se: tendências e desenvolvimentos no uso de padrões, traçabilidade, intercâmbio de dados, dispositivos médicos e segurança do paciente.
O encontro, organizado pela Oficina Global GS1 em colaboração com a GS1 Argentina, reuniu protagonistas nacionais e internacionais do setor do cuidado da saúde; incluindo fabricantes, importadores, distribuidores, drogarias, farmácias, centros assistenciais, colégios, associações, universidades, e organismos reguladores oficiais.
“Quando a GS1 Global faz este tipo de eventos no mundo, vai contar-lhe ao setor as coisas que poderiam ser feitas”, comentou Mario Abitol, Líder Saúde de GS1 Argentina. E logo explicou por que Buenos Aires foi a anfitriã deste encontro: “A Argentina é um dos países latino-americanos que mais cresceu no controle sanitário de medicamentos, onde a implementação da traçabilidade aconteceu mais rapidamente, por isso a GS1 selecionou o país como sede da Conferência Global.”
Neste sentido, Rubén Calónico, Gerente Geral da GS1 Argentina, coincide em destacar o lugar de privilégio que a Nação possui. “A Argentina é, talvez, o único país que esteja com um sistema de traçabilidade de medicamentos avançado, bem executado, em desenvolvimento e com informação clara sobre os medicamentos traçados. É uma posição desejável para todos os que estão na área da saúde”, manifestou.
Através de palestras informativas, conferências, análise de casos e implementações locais, os palestrantes concordaram em quão importante é promover a adoção de soluções e práticas de identificação e traçabilidade. Mas, como? Uma das alternativas possíveis é mediante padrões mundiais GS1.
Agora bem, o conceito é chave: todos os participantes da corrente deveriam falar um mesmo idioma para otimizar os processos e melhorar a segurança do paciente.
Rumo à traçabilidade de equipamento médico
Cumprir os padrões e as regulamentações de traçabilidade não é um projeto simples; requer a intervenção de múltiplos elos que conformam uma cadeia de valor. Mas é possível, o segredo está na otimização.
“Necessitamos inovar e capacitar. Traçabilidade, disponibilidade de dados, há muitos processos envolvidos para realizar uma mudança. A simplicidade faz com que a cadeia de subministro seja mais eficiente”, certificou Camilo Rueda, Gerente de Relações de McKinsey and Company.
Por sua vez, Luciano Di Cesare, Diretor Executivo de INSSJP – PAMI, convocou os agentes do setor e disse: “Convido à evolução, a adquirir novas tecnologias, adotar novos padrões, e proporcionar mais segurança”. Resulta interessante mencionar, neste acontecimento, que Di Cesare recebeu um reconhecimento pela implementação do sistema de traçabilidade com padrões GS1 na Argentina.
Traçabilidade e fiscalização de medicamentos na Argentina
Desde que em 2011 anunciou-se a lei de Traçabilidade de Medicamentos no país, a ANMAT começou a trabalhar com PAMI no campo da regulamentação. E se bem a implementação foi gradual – o modelo iniciou com o seguimento de 88 ativos-, atualmente se traça cem por cento dos ativos do mercado.
María José Sánchez, Coordenadora do Programa Nacional de Controle de Mercado de Medicamentos e Produtos Médicos da ANMAT, informou que 241 laboratórios, 8.060 farmácias e 450 drogarias participam do sistema de traçabilidade. E acrescentou: “Estamos comprometidos e envolvidos. Não só traçamos a rota dos medicamentos senão também continuamos exercendo uma forte fiscalização dos mesmos através do trabalho dos inspectores da ANMAT em todos os elos do sistema de comercialização dos medicamentos.”
Dado que o sistema de governo da Nação é federal, cada província é autônoma e tem seus próprios regulamentos. Por isso, é importante que os ministérios de Saúde estaduais se comprometam com o projeto para lograr um maior alcance. Hoje em dia, 14 das 27 províncias argentinas estão incorporadas ao Sistema Nacional de Traçabilidade.
Maximiliano Derecho, Assessor legal do Programa Nacional de Controle de Mercado de Medicamentos e Produtos Médicos da ANMAT, anunciou que será lançado um novo sistema de identificação de medicamentos que incluirá duas novas tecnologias: por um lado, serão substituídos os destacáveis da embalagem que contém o produto por uma etiqueta ou selo -que não poderá ser removida sem deixar uma marca evidente na embalagem- e por outro, exigir-se-á uma alteração dos sistemas informáticos em uso atualmente – os farmacêuticos deverão comprar leitores para o código unívoco que estará presente nas novas etiquetas-. Do mesmo modo indicou que também serão traçados os produtos médicos implantados.
A primeira etapa de implementação do sistema de traçabilidade, que incluiu 88 ingredientes farmacêuticos ativos (Disp. 3683/2011), regeu-se segundo a disposição 3683/2011 de ANMAT – que ainda está em vigência-. Contudo, este ano entrarão em vigência duas disposições: a Nº 1831/2012, que incorpora 226 ingredientes farmacêuticos ativos, e a Nº 247/2013, que inclui nove substâncias psicotrópicas.
Plano Remediar
Mauricio Monsalvo, Coordenador de Sistema de Informação e provisão de medicamentos do Ministério de Saúde da Nação, é o responsável do Plano Remediar. Pois bem, em que consiste? O programa cumpre múltiplas funções: garantir a provisão gratuita de medicamentos ambulatórios para aqueles que possuem dificuldades de acesso, regular a demanda, efetivar a cobertura de medicamentos crônicos, distribuir, e licitar a provedores, entre outras tarefas.
“Distribuímos entre 18.000 e 20.000 fármacos mensais a mais de 7.000 lugares do país. E para controlá-lo usamos um sistema de remitos”, comentou Monsalvo. Logo ampliou: “Buscamos despapelizar o sistema de inventário e substituí-lo por um sistema de gestão online, que centralize toda a informação no SISA”.
O Plano enfrenta um grande desafio: lograr uma maior cobertura de centros sanitários em nível nacional. No entanto, é necessário que o programa Remediar esteja integrado verticalmente em todo o sistema público de saúde. “Para cumprir esses desafios vamos incluir um orçamento de 5 anos para incorporar tecnologia nos centros sanitários; esta tecnologia inclui sistemas de gestão e inventários e tecnologia de leitura ótica para as farmácias hospitalares. Por isso vamos investir 50 milhões de dólares em dois anos”, concluiu o coordenador.
O paradigma dos dados: compartilhar e acessar a informação
Algo fica claro: todos coincidem na necessidade de compartilhar dados. Integração, traçabilidade, registro eletrônico e intercâmbio são uma mostra das diversas noções que os dissertadores encontraram como ponto de apoio e denominador comum, ao longo dos três dias que durou a Conferência Global em Buenos Aires.
Lloyd Mager, Gerente Estratégico de AbbVie, enfatizou uma necessidade: pensar como realizarão a troca de informação. Além disso, detalhou o funcionamento do sistema que sua companhia provê: “AbbVie é uma plataforma para trocar dados; o sistema integra todos os produtos serializados, reconhece eventos que ocorrem na sequência de registro e realiza relatórios automáticos”.
Desde esta perspectiva, Thomas Werthwine, Diretor da Johnson & Johnson, Christian Riediger, Gerente Estratégico da Bayer Pharma AG, e Margot Drees, Diretora Executiva da Global Healthcare Exchange, ressaltaram o valor das ferramentas da GS1 na hora de pensar em dados. “As organizações individuais podem obter muitos benefícios se implementarem o padrão global da GS1. Por exemplo, podem acessar o mercado e sincronizar dados”, indicou Werthwine. Enquanto Riediger exemplificou: “DataMatrix é o sistema que transporta os dados. Atualmente há 24 fabricantes com 86 produtos e mais de 300.000 produtos codificados”. E, finalmente, Drees afirmou: “EPCIS pode ser utilizada para trocar dados entre todos os participantes da cadeia de subministro”.
Eficiência, otimização e traçabilidade
O leit motiv do encontro foi compartilhar experiências em pró da traçabilidade. A eficiência, a otimização e a sustentabilidade da cadeia de valor do setor do cuidado da saúde são essenciais para projetar que, em algum momento, a traçabilidade alcance todos os medicamentos, implantes, insumos e produtos sanitários. O processo acaba de começar; o caminho é construído ao andar.
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