Por Edileuza Soares
A falta de padrão para troca de dados, regulamentações e mecanismos de segurança são as principais barreiras que os CIOs que autuam em instituições de saúde enfrentam para implementação do prontuário eletrônico único no Brasil. O novo sistema informatizado propõe unificar informações dos pacientes para os médicos da rede púbica e privada tenham acesso ao seu histórico com facilidade. A integração, segundo a classe médica, é importante para aumentar a eficácia dos tratamentos e ter diagnósticos com mais velocidade.
De acordo com dados da Associação Brasileira CIO Saúde (ABCIS), existem atualmente no País cerca de 7 mil hospitais, somando os públicos e privados. Entre estes, apenas 1 mil têm prontuário eletrônico único.
Porém, David Oliveira, presidente da ABCIS, afirma que esses prontuários funcionam apenas internamente e não se falam com outras instituições, como prega a tecnologia. «»Cada um fez um sistema do seu jeito»», observa o executivo que responde pela TI do Hospital Sepaco, em São Paulo.
Oliveira destaca que o prontuário único é importante para melhorar atendimento aos pacientes, pois traz o histórico de todas as consultas realizadas por todos os médicos que os acompanham em seus tratamentos. Ele dá o exemplo do paciente que quando muda de convênio ou de médico precisa relatar toda a sua história em um novo atendimento e também ficar carregando exames físicos realizados para avaliação do seu diagnóstico.
O que trava a tecnologia
O presidente da ABCIS conta que o Brasil avançou em infraestrutura básica de comunicação com a disseminação das redes de alta velocidade de banda larga, mas precisa ter backbones mais robustos. Isso em razão de a área de saúde necessitar trafegar aplicações pesadas, como as imagens de diagnósticos.
O executivo constata uma evolução também nos sistemas informatizados para a saúde, mas constata que muitos hospitais ainda estão carentes de ferramentas de gestão e sem integração de ERPs com todas as áreas.
Outro problema é a falta de padrão para a troca de dados entre as instituições da rede pública e privada. «»Precisamos de algo parecido ao que foi feito pelo Banco Central, quando criou o Sistema de Pagamentos Brasileiros (SPB)»», sugere o CIO.
O déficit de mão de obra especializada em TI especializados é outra barreira para avanço do prontuário eletrônico único do Brasil. Segundo Oliveira, há uma dificuldade para achar talentos que entendam o mundo da tecnologia e também o da saúde, que trabalha com ferramentas específicas. As equipes também precisam trabalhar integradas, envolvendo médicos e enfermagem no processo de integração do prontuário único.
Com essas dificuldades, o presidente da ABCIS acredita que esse projeto ainda vai levar uns 5 anos para vingar no Brasil. Para tentar encurtar esse caminho, a entidade reúne um grupo de 200 CIOs, que atuam na área de saúde e que está trabalhando juntos e também tentando sensibilizar representantes do governo na busca de soluções mais rápidas.
Iniciativa de São Paulo
O estado de São Paulo já deu o primeiro passo nessa direção. Na semana passada a Secretaria estadual de Saúde lançou o prontuário eletrônico único, hospedado na nuvem. A tecnologia permitirá acesso imediato ao histórico de atendimentos dos pacientes no Sistema Único de Saúde (SUS) de qualquer unidade estadual de saúde.
Batizado de “S4SP” (Saúde para São Paulo), o programa recebeu um investimentos de R$ 56 milhões por parte do governo do estado e foi desenvolvido no Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade d São Paulo (USP), em parceria com a Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (Prodesp).
O sistema prevê a completa informatização das unidades estaduais de saúde e, posteriormente, sua integração com as redes municipais, começando pela capital paulista. Com isso os dados dos pacientes ficarão registrados em uma espécie de “nuvem da saúde”.
O prontuário único possibilitará o armazenamento padronizado de todos os registros de saúde do paciente coletados em hospitais, ambulatórios, laboratórios ou farmácias da Secretaria de Saúde. Esses dados serão compartilhados para que, sempre que necessário, a unidade de saúde que atender este paciente tenha conhecimento de seu histórico clínico, bem como possa definir, da melhor forma, a adoção de tratamento.
O acesso de médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde ao resumo do prontuário do paciente permitirá, ainda, melhor acompanhamento das interações medicamentosas e da alimentação dos pacientes em caso de internação.
Aplicações na nuvem
Pelo sistema, os pacientes do SUS paulista também poderão ter acesso a seus exames clínicos e laboratoriais pela internet, a exemplo do que hoje é ofertado pela rede particular de laboratórios.
O piloto desse programa começou em 2012 e foi testado em 11 unidades de saúde do estado. Neste ano, a pasta irá implantar o sistema em outros 22 serviços. André Almeida, diretor técnico do grupo de informática em Saúde da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, estima que até 2014 todas as unidades 57 unidades de saúde da administração direta (hospitais, ambulatórios, laboratórios, farmácias) estejam integrados ao sistema.
«»Vamos tomar uma benzetacil se não concluirmos esse projeto no prazo»», brinca o CIO, que também é diretor de Conhecimento e Inovação da ABCIS. Ele considera que a falta interoperabilidade dos sistemas faz o Brasil caminhar mais lentamente na implantação de um prontuário único.
Entretanto, Almeida avalia que a chegada de fornecedores multinacionais de TI que participam desses projetos no mercado internacional vai ajudar acelerar essa iniciativa no Brasil.