Por Rocío Mellas
Nem sempre é igual. A democratização que implica a implementação de tecnologias da informação e da comunicação em Saúde é global. No entanto, o impacto e o desenvolvimento das soluções dependem de um fator social: a cultura de cada lugar. Por isso, um dos desafios da indústria eHealth é criar soluções flexíveis e interoperáveis.
Edson Leite é CEO da Input e durante a Conferência e Exposição Anual HIMSS Latin America 2014 dialogou com a E-Health Reporter sobre a necessidade de repensar os sistemas em função da cultura organizacional.
Uma das maiores críticas que os desenvolvedores recebem é que as pessoas devem adaptar-se ao software. O que se deve fazer para mudar essa dinâmica?
A ideia é que o software se adapte às pessoas, por isso é importante respeitar a cultura local. O tempo de vida do software pode correr um risco se não receber uma aceitação, e por sua vez isso gera um sofrimento geral dentro da organização e implica perda de tempo, dinheiro e crescimento; por isso é muito importante pensar na estrutura muito antes de instalar uma solução.
Não basta implementar um software, mas o que acontece quando a estrutura muda?
Para que qualquer processo de implementação de sistemas seja exitoso, você tem que conhecer como as pessoas que utilizarão o software trabalham e como vão compartilhar a informação. Nós enviamos psicólogos e engenheiros ao lugar e, além disso, contratamos alguns funcionários locais para conhecer um pouco da cultura. Esta iniciativa serve para nós adequarmos a solução dentro daquele ambiente, porque se chegarmos com um pacote fechado o fracasso é iminente.
Na Input temos a cultura de customizar a solução para respeitar a cultura organizacional que há em cada hospital ou instituição. E isso não se aplica somente aos clientes internacionais, porque as diferenças também existem entre diferentes regiões de um mesmo país.
Neste contexto, como se deveabrangeros profissionais sanitários?
De maneira natural. Nosso software foi concebido de acordo com os processos Toyota de administração, ou seja, pensando em uma administração horizontal, onde todos participam de todos os processos de trabalho. Isso é muito importante para qualquer organização, seja pública ou privada, já que permite que todos compartilhem informação em tempo real.
Você acha que as demandas dos gestores de tecnologia de Saúde são compatíveis com as ofertas do mercado?
Hoje em dia os gestores estão à procura de soluções efetivas que possam cuidar da segurança dos pacientes, e nós oferecemos ferramentas para ajudá-los. Se o que o gestor demanda não está no mercado, a indústria está em problemas: as soluções devem estar disponíveis todo o tempo. Mais além dos interesses dos agentes, o foco deve estar nos pacientes.
Contudo, em termos de ERP parece que nunca chega uma solução holisticamente completa…
É verdade, poderíamos dizer que o nosso ERP é um software completo, mas não cobre 100% da organização; e isso se deve à dinâmica atual: todos os dias estão inventando novos setores, e isso implica novas necessidades e novos desafios. Um software 100% completo hoje, fica obsoleto em pouco tempo, e o ponto chave está em estar atentos com as atualizações. Por isso digo que o nosso ERP cobre 99% e está à vanguarda das soluções porque acrescenta valor. Por exemplo, trabalha com reconhecimento de voz- speech to text e text to speech- para evitar a contaminação que poderia ser gerada a partir do uso do mouse e do teclado; isso é muito útil durante o ato cirúrgico, porque o sistema pode dialogar com o cirurgião e com o anestesista.
O que acontece atualmente com a informação sanitária?
Para mim o grande problema é que os dados não costumam ser científicos, senão empíricos. Há pouco tempo visitamos os Estados Unidos e para a nossa surpresa descobrimos que não há um software tão completo. Foi uma experiência incrível, conhecemos quatro hospitais de Virginia e lá, cada departamento tem um software diferente e não compartilha a informação, então o gestor está desesperado porque a informação que chega não é científica. Muitas vezes chegam dados empíricos, mas tomar decisões com dados empíricos é um risco muito grande.
A região ainda tem contas pendentes com a eHealth…
O maior desafio é adequar a solução para cada realidade: a realidade administrativa, a realidade contável, a realidade do setor de impostos, a realidade operacional, a realidade das pessoas, a realidade da cultura, e principalmente a realidade social.