Esta é a convicção de um dos participantes do painel Inteligência artificial e apoio à decisão: caminho para saúde com precisão. O evento contou com diferentes especialistas que discutiram a importância da IA para viabilizar uma saúde mais específica, precisa e personalizada.
Por Emanuele Katiuska
Com moderação do Dr. Claudio Giuliano, CEO da FOLKS, a seção brasileira da Conferência latino-americana de Saúde da HIMSS abriu seu segundo dia com o painel Inteligência artificial e apoio à decisão: caminho para saúde com precisão.
Henrique Dias, fundador e cientista de dados da NoHarm.ai, abriu o debate referindo a usabilidade da IA como suporte à decisão na segurança de medicamentos no ambiente hospitalar e advertiu sobre dados oficiais em saúde que demonstram o alto nível de erros nas prescrições médicas nos ambientes hospitalar, ambulatorial e em UTIs, o que contraria o entendimento generalizado de que o ambiente hospitalar é seguro. Para o especialista, este é um problema grave que deve ser enfrentado. “A ideia é criarmos barreiras para que esses erros não cheguem até os pacientes. Os hospitais têm um fluxo grande, onde podemos criar essas barreiras na prescrição médica, na dispensação, armazenamento e administração das medicações”, explicou.
A NoHarm.ai utiliza um sistema que trabalha em trazer a IA para a avaliação das prescrições, que é o ambiente da farmácia clínica, agindo, desse modo, no fluxo do medicamento. Conforme expressou Henrique, “as farmacêuticas já fazem uma avaliação das prescrições para verificar se existe algum problema; a NoHarm.ai as auxilia no suporte à decisão dentro da avaliação médica para que o erro ou potencial erro não chegue ao paciente”.
Utilizando diferentes inteligências e também sistema de regras, a NoHarm.ai se integra aos dados dos hospitais para melhorar a qualidade assistencial do ambiente hospitalar no processo específico da farmácia clínica, aumentando a qualidade assistencial e a eficiência hospitalar. “A IA faz a prevenção de erros e temos uma medicina mais precisa, porque se dá ao paciente o medicamento mais adequado. Isso também traz uma redução de custos, tanto no aumento da eficiência operacional da farmácia clínica quanto na redução de medicamentos”, disse Henrique.
Jackson Fressato, fundador e presidente do Instituto Laura Fressato, destacou que o mercado e a indústria da saúde têm feito grandes investimentos, porque entenderam que é necessário que o prestador de serviços de saúde esteja bem abastecido com recursos e insumos.
A startup Laura é uma plataforma de IA cujo objetivo principal é gerar indicadores de risco para os usuários dos serviços médicos a partir das informações de todos os pacientes, as quais são coletadas e gravadas em sua base dados. “O paciente que está internado dentro de um hospital é monitorado e o protocolo de qualidade ou de segurança, baseado em deterioração clínica do paciente, alerta a equipe médica entre todos os pacientes monitorados aquele que precisa de uma atenção mais imediata ou mais rápida”, explicou Jackson.
O especialista acrescentou que Laura é um produto de suporte à decisão. Utilizando a lógica da própria tecnologia, faz uma leitura de dados estruturados com muito mais rapidez do que qualquer equipe. Nesse sentido, substitui o trabalho repetitivo e volumoso da equipe de ler prontuários, exames e informações e, com base nos pontos sobre os quais o robô foi treinado, classifica o risco e indica à equipe assistencial o que precisa ser observado e acompanhado.
O Dr. Fábio Tabalipa, médico especialista em clínica médica e ciências de dados, ressaltou a importância da IA não como uma funcionalidade em si mesmo, mas sim como apoio na construção de uma funcionalidade de suporte à decisão clínica. Atualmente Head em Inteligências Clínicas da Memed, explicou que “o grande propósito da Memed é aumentar a adesão ao tratamento para o paciente, mas também trazer funcionalidades que facilitem a vida do médico e, assim, transformar o setor de saúde, fazendo com que ele seja mais eficiente e humano”.
No mercado desde 2012, inicialmente como uma plataforma que auxiliava na elaboração da prescrição médica ainda impressa, a Memed, em 2020, depois de mudanças nas regulações, conseguiu estabelecer um ecossistema digital de ponta a ponta que elimina completamente a necessidade do papel para as receitas médicas.
O Dr. Victor Gadelha, médico neurologista e mestre em IA e ciências da computação, atualmente Head de Inovação Médica para Hospitais da Dasa referiu sobre a evolução da medicina, que teve seus começos com a medicina subjetivista, até chegar, hoje, em um modelo baseado em evidências. Para o especialista, a medicina da precisão nasce da necessidade de transformar o modelo atual em mais assertivo: unindo a as evidências à medicina da precisão e, com auxílio de uma proposta adequada de algoritmos como ferramenta, pode-se criar uma medicina especializada.
“A ideia é, em primeiro lugar, fazer a mudança na saúde baseada em valor onde temos alguns atributos que são muito importantes, inclusive para sustentar o setor, como a pertinência e o desfecho” e “o algoritmo tem um papel muito importante e trabalha nesses objetivos”, explicou o especialista.
A Dasa, hoje, é a maior rede integrada de saúde: são 16 hospitais, 900 clínicas e um centro integrador de atenção e coordenação do cuidado, baseado em valor e no cuidado longitudinal do paciente; conta com mais de 100 cientistas e um laboratório de IA com mais de 50 algoritmos validados, principalmente clínicos.
Os participantes concluíram referindo os propósitos da utilização da IA na área da saúde. Para o Dr. Fábio, a IA “é o estado de arte da tecnologia complementando o raciocínio humano”. Henrique destacou que a IA é utilizada para impactar na escala e que é necessário considerar a possibilidade de monitorar uma quantidade enorme de pacientes, exames e dados, impactando em mais vidas, mais rápido e trazendo mais eficiência. “A NoHarm.ai não é só sobre uma startup de tecnologias; também integra um propósito e traz impacto social para o Brasil, principalmente para as áreas mais carentes como o SUS, entregando ao sistema público nossas soluções de forma gratuita”, afirmou.
O Dr. Victor acrescentou que a IA deve ser utilizada pela importância significativa em relação ao custo benefício. Na opinião de Jackson, o objetivo principal da utilização da IA é garantir algo que não foi possível fazer no meio analógico: o acesso primário e secundário à saúde. Conforme expressou o especialista, o seu propósito à frente do Instituto Laura é levar tecnologia para a saúde em todo o território nacional e, assim, garantir que o Laura não seja simplesmente um produto acessível apenas àqueles com recursos para consumir e implementar suas tecnologias.