No final de outubro, Caroline Zago, Enterprise Informatics Regional Business Leader para a América Latina, foi anfitriã da 11ª edição do Philips Connect Day em São Paulo, Brasil. A líder regional estreou seu cargo com um evento de sucesso e descreveu as expectativas e estratégias da empresa para o curto e médio prazo.
Por Rocío Maure
Após o encerramento do Connect Day 2024, tivemos uma entrevista exclusiva com Caroline Zago, nova Enterprise Informatics Regional Business Leader para América Latina da Philips. A executiva brasileira compartilhou sua visão sobre o evento, descreveu os desafios e necessidades dos clientes da região e destacou as futuras inovações que a Philips oferecerá na região para resolver esses problemas.
- Este ano você foi anfitriã do Philips Connect Day. Quais são suas conclusões desta edição?
Foi um excelente evento, tivemos 58% mais participantes que no ano passado. Quero destacar o nível das discussões e da agenda que preparamos, porque elas atenderam diretamente às necessidades dos nossos clientes, estavam muito alinhadas com as necessidades da região. Também vejo como positivo o crescente interesse e nível de maturidade dos participantes em falar sobre os desafios da América Latina. Apenas 16% dos hospitais da região são digitalizados e desse percentual, apenas 55% têm todo o processo digitalizado. Os líderes hospitalares entenderam que a digitalização é muito estratégica, que não é mais opcional, porque é preciso obter mais resultados financeiros, operacionais, clínicos e de segurança do paciente.
- Considerando que já foram realizadas 11 edições, que diferenças você vê em relação às primeiras edições do Connect Day?
Conversando com os participantes que vêm desde o primeiro ano, observamos que inicialmente a digitalização estava focada apenas em melhorar o fluxo de trabalho a nível operacional. Agora, nossos produtos são altamente focados no desempenho clínico, qualidade e segurança do paciente. Dessa vez houve uma participação maior de médicos com foco clínico, tivemos 25% de médicos que estão em distintos cargos. Além disso, destaca-se o crescente número de médicos no cargo de Chief Medical Informatics Officer (CMIO), o que já é uma realidade na América Latina.
- Como foi a recepção do novo lançamento, Philips Medical Device Integration (MDI), entre os participantes?
Na primeira sessão do evento, a necessidade de garantir a interoperabilidade das interfaces dos diferentes fornecedores foi destacada como um desafio atual. Quando você entra em uma unidade de terapia intensiva, por exemplo, existem cerca de 30 aparelhos de fornecedores diferentes. Por isso, quando apresentamos o MDI e explicamos as possibilidades, os clientes ficaram encantados, fizemos muitas demonstrações e já temos encomendas.
Esse interesse se deve ao fato de a solução abordar justamente um problema que os hospitais e clínicas enfrentam neste momento. Nosso MDI é uma neutral-vendor solution. Dispositivos semelhantes no mercado hoje são feitos para um fornecedor e conectados ao seu próprio equipamento; mas o desafio era conectar-se com diferentes fornecedores. O Philips MDI é compatível com mais de 1.200 dispositivos de vários fabricantes e a conexão é quase automática. Não se trata apenas de capturar os dados, mas de interpretá-los para produzir insights.
- Quais são os principais desafios que os clientes enfrentam hoje?
Interoperabilidade, gestão de mudanças, privacidade de dados e apoio governamental quando se trata de infraestrutura. Em primeiro lugar, a interoperabilidade é essencial para trabalhar com diferentes interfaces de diferentes fornecedores. Em segundo lugar, a gestão da mudança é muitas vezes um desafio porque é difícil conseguir a adoção entre todos os funcionários, especialmente os médicos. Portanto, é estratégico ter um CMIO que possa conversar com outros médicos. É uma posição muito crítica para o sucesso do projeto de digitalização. Terceiro, a gestão da privacidade de dados é uma questão que ainda inquieta os hospitais, especialmente os pequenos que se preocupam com o assunto. Finalmente, na América Latina, o apoio que o governo pode fornecer é fundamental. Um dos clientes ilustrou que “há muitos Brasis dentro do Brasil”, já que a realidade das grandes cidades é uma só, mas quando saímos desses territórios há muito déficit de infraestrutura que impede a digitalização (como o 5G). No Brasil existe um projeto governamental de transformação digital para os próximos 10 anos e durante o evento foi interessante ver o intercâmbio entre o setor privado, o setor público e o governo em relação a esse tema.
- Quais são as propostas da Philips para enfrentar esses desafios?
Conforme apresentamos no evento, o principal recurso para ajudar na interoperabilidade é o Philips MDI, que já está disponível no Brasil, por exemplo. Em relação à privacidade de dados, estamos nos preparando para trazer ao mercado no segundo semestre de 2025 uma solução bastante robusta que temos focada a nível mundial na privacidade de dados. Ao mesmo tempo, temos uma agenda de discussões com o governo para trabalhar em infraestrutura e vamos apresentá-la como grande prioridade. A Philips quer ajudar mostrando quantos pequenos clientes não podem se tornar digitais porque não têm infraestrutura de dados para fazê-lo.
Em relação à gestão de mudanças, abordamos isso de diferentes maneiras. Durante o processo de venda, fazemos uma análise do cliente para avaliar o que ele precisa para ter 100% do processo digitalizado. Desta forma, podemos medir a predisposição à mudança, às limitações orçamentais e até à aprovação, como acontece com clientes públicos que têm uma dinâmica particular. Com toda esta informação, fazemos a sugestão do projeto de aquisição e implementação de soluções digitais. Nessa etapa, oferecemos assessoria de especialistas que auxiliam na tomada dessas decisões.
Além disso, quando os clientes vão fazer uma mudança significativa, que exige um investimento muito grande, garantimos o acompanhamento do impacto desta digitalização a cinco níveis: operacional, financeiro (os clientes costumam destacar rapidamente alterações no cashflow e no tempo de faturação), clínico, impacto na gestão do estresse da equipe e na segurança e qualidade no atendimento ao cliente (especialmente com soluções como o prontuário eletrônico Tasy). Desta forma e graças a estes números, o cliente fica mais motivado, consegue ver as mudanças e perceber a importância do impacto.
Temos, por exemplo, um caso de sucesso de uma rede de hospitais públicos no Brasil, com 12 localidades, que implantou o Tasy e nos primeiros 3 meses reduziu o tempo de espera por cirurgia de 45 dias para 28 dias.
- Parabéns pela sua nova liderança, depois de muitos anos ocupando outros cargos na empresa. Quais são suas expectativas e plano de ação para o crescimento desta área na região?
Há um mês assumi essa responsabilidade e nossa meta é crescer dois dígitos nos próximos cinco anos. Quando converso com minha equipe global, eles destacam que existe uma grande oportunidade na América Latina, mas que junto com isso vem a complexidade. Somos uma região de 63 países, a maioria de língua espanhola, mas também existe o Brasil, que é gigantesco e tem suas próprias complexidades. Assim, para o próximo ano, queremos focar-nos em 3 prioridades estratégicas:
1- A promoção de canais diretos e indiretos, para acelerar o processo de implementação de soluções digitais. Meu objetivo é reduzir tempo e complexidade, o que também ajudará os clientes na gestão de mudanças e na obtenção de resultados com mais rapidez. Queremos também aumentar a satisfação do cliente com o processo de implementação; sabemos que a transição não é fácil, por isso queremos acelerar e simplificar o processo.
2- Aumentar a capacidade da nossa equipe de vendas e implementação para a América Latina. Ainda existem muitas regiões que não possuem 100% das soluções digitais disponíveis, por isso queremos garantir que através de canais indiretos alcançamos clientes fora dos grandes centros. Visamos principalmente clientes de menor porte, pois estamos em quase 90% dos hospitais de grande porte e alta complexidade, mas agora precisamos modelar os produtos de acordo com esse setor, reduzindo a complexidade e implementação do produto, para atingir os clientes de médio e pequeno porte.
3- Trazer mais inovação para a região. O Philips MDI é apenas o primeiro passo, mas as próximas soluções estão focadas em melhorar a eficiência do fluxo de trabalho, melhorando o suporte à decisão clínica com soluções de IA para otimizar o trabalho dos profissionais de saúde.
- Finalmente, que conselho você daria aos líderes do setor de saúde latino-americano?
A digitalização parece muito complexa quando se pensa em chegar ao último nível e é difícil saber por onde começar. Recomendo que tenham uma visão a longo prazo, mas que comece o quanto antes. Principalmente, com a parte de operação e informações do paciente com prontuário eletrônico (PES), isso já implica 50% da digitalização. As informações dos pacientes são protegidas e, se conectadas a outras soluções, como PACS, há um grande potencial de crescimento. Os PESs facilitam o fluxo dos pacientes em todo o hospital e geram informações essenciais.
Minha sugestão é sempre conversar com uma equipe de especialistas e ir passo a passo, até atingir um nível de maturidade que gere resultados e esteja alinhado ao plano estratégico. Neste sentido, um segundo conselho seria tratar esta jornada como parte de um plano estratégico geral: não é um plano transacional, a digitalização tem que ser um meio para um fim, uma forma de resolver os desafios estratégicos que a organização enfrenta porque vai ajudar a crescer.