“O futuro da medicina, a verdadeira revolução do setor é focar na saúde em vez da doença”, disse Fabia Tetteroo-Bueno, CEO da Philips para a América Latina, na abertura do evento, e explicou que “atualmente, sem considerar a pandemia de COVID-19, 75% das mortes globais, são por doenças crônicas que vão aumentar exponencialmente nos próximos anos.” Além disso, para dar um panorama específico da região, destacou que na América Latina não há investimentos suficientes em medicina preventiva. “Apenas 10% dos investimentos são para prevenção e 90% para diagnóstico e tratamento”.
Em função disso, Tetteroo-Bueno mencionou os quatro pilares principais de trabalho da Philips para o atendimento ao paciente: “Melhorar a experiência do paciente, melhorar a experiência dos profissionais da saúde, obter melhores resultados nos tratamentos e reduzir os gastos das instituições.” Todos convergem e se interconectados, já que, por exemplo, “a única forma de diminuir os gastos é ter melhores resultados para o paciente”.
A executiva ainda indicou que o relatório Future Health Index (um estudo que a Philips prepara todos os anos, e que este ano se concentra nas percepções dos jovens profissionais do futuro) explica a necessidade urgente de capacitação deste grupo. “Os jovens médicos afirmam que necessitam treinamento contínuo, para poder usar toda a tecnologia que está permanentemente integrada ao fluxo de trabalho”, disse ela, acrescentando que “em 2035, vamos ter um déficit de quase 13 milhões de profissionais da saúde bem preparados”.
Concluindo, Tetteroo-Bueno afirmou que a transformação digital pode ajudar a superar os grandes desafios da atualidade. Desde a falta de atenção básica em toda a região, até a falta de centralização das informações do paciente (HCE) e a concentração de profissionais da saúde nas grandes cidades.
Passo a passo
Os passos a seguir para alcançar a transformação digital da saúde requerem a participação de diversos setores, e esse foi o foco da palestra liderada por Cláudio Giuliano, CEO da Folks e representante oficial do HIMSS Analytics para a América Latina. Giuliano sintetizou os benefícios da transformação digital: “maior segurança para o paciente, melhor qualidade do atendimento, eficiência nos processos, redução de gastos e a satisfação tanto dos pacientes como dos e profissionais da saúde”.
Nesse sentido, o Dr. Vladimir Pizzo, CMO da Philips, destacou que transformar significa mudar e que “saltar sem um plano pode ser irresponsável”. Por sua vez, a Dra. Carine Junqueira, CMIO do Hospital Dona Helena, afirmou que “a transformação digital já está acontecendo, mas é importante considerar como ela é realizada e quais os benefícios que as ferramentas proporcionam aos trabalhadores e pacientes”.
Dr. Pizzo também compartilhou algumas das lições aprendidas pela Philips em busca da transformação digital. Entre elas, mencionou que é necessário “identificar quais são as reais necessidades das partes interessadas e quais as características que o processo exige, para que os profissionais não tenham que se adaptar à ferramenta, mas sim que os sistemas se adaptem às instituições”. O especialista destacou que, sempre que possível, é melhor adaptar a ferramenta a cada instituição porque não existem duas iguais.
A aceleração digital foi outro dos temas centrais da sessão. Dr. Pizzo destacou o fator determinante para 2020: “Este ano o responsável pela aceleração não foi um presidente ou um ministro, mas um vírus”. Para o CMO da Philips, “a aceleração está relacionada com a capacitação pessoal” e, por outro lado, com “o empoderamento do cidadão como mais um grande mobilizador da transformação digital”. Na mesma linha, Dra. Junqueira disse que “a aceleração está completamente alinhada com o planejamento”. Embora, algumas ferramentas já estejam sendo implementadas e utilizadas em muitas instituições, “devemos também enfocar em compartilhar o conhecimento”. Por outro lado, Vieira acrescentou que “a tecnologia fornece informação e quanto mais informação houver, melhor será o poder de decisão”.
Lei e ordem (das instituições)
O fator regulatório é sempre esencial. Para falar sobre a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), a Philips contou com a participação de Luis Gustavo Kiatake, presidente da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS). No Brasil, a lei foi promulgada em 2018, mas entrou em vigor em 2019. Em comparação com seus vizinhos latino-americanos, o Brasil tem um progresso mais lento nesse sentido, em relação a Argentina (2000), Chile (1999), México (2010), Peru (2011) e Colômbia (2012). Estas iniciativas, além de proteger os cidadãos e proporcionar um enquadramento de ação, são importantes para as relações internacionais com países que dispõem de legislação semelhante, como o equivalente europeu, o Regulamento Geral de Proteção de Dados (GPDR, na sigla em inglês). “Sempre falamos em proteção de dados, mas na realidade buscamos proteger as pessoas. Os direitos garantidos por lei correspondem às pessoas físicas”, frisou Kiatake.
O presidente da SBIS explicou que são vários os direitos contemplados na lei: “existe um princípio de transparência enfocado no paciente, a quem devemos explicar como cuidamos e também o que é feito com a informação; existe um direito de acesso a esse dado porque pertence ao paciente e, embora o formato tecnológico ainda não tenha sido estipulado, também tem direito à portabilidade dessa informação”.
Essa proteção não é tão simple quando é feita a análise do fluxo desses dados. “O laboratório coleta informações, mas também cria documentação, então todo esse material deve ser processado, unificado, armazenado e decidido com base nessas informações”, esclareceu Kiatake. É fundamental documentar cada movimento destes dados, estabelecer como são enviados e quem os acessa, mesmo que sejam removidos. “Os controles e proteções devem funcionar tanto no formato físico quanto digital e criar planos de contingência, principalmente no que diz respeito à segurança”, afirmou.
O futuro chegou
“A inovação digital se tornou uma realidade da noite para o dia”, disse Jeroen Tas, Diretor de Inovação e Estratégia da Philips Healthcare, que liderou uma palestra sobre atendimento virtual e centros de comando colaborativos. O especialista destacou que a pandemia representa um ponto de inflexão para novas tecnologias. “A situação atual exige ter informações em tempo real, entender como a doença evolui, colaborar entre profissionais e instituições e compartilhar dados sobre comorbidades”, disse.
Mas além da pandemia, Tas aspira a “aplicar inteligência artificial (IA) para obter monitoramento e diagnóstico mais precisos” e garantiu que a Philips vem incentivando as instituições de saúde a inovar em seus modelos de negócios, por meio das ferramentas que a empresa fornece. Entre elas, análises avançadas por imagens, patologia e genômica.
Outra estratégia fundamental é o diagnóstico preciso e a coleta de dados do paciente de forma centralizada. Desta forma, “podemos democratizar o conhecimento, uma vez que os sistemas aprendem com cada procedimento e esse volume de conhecimento permanece disponível”, disse Tas com entusiasmo.
Da mesma forma, os centros de comandos também são essenciais em tempos de crise. Algumas ferramentas de diagnóstico, como uma máquina de ultrassom portátil que envia a análise em tempo real para a central de comando, tornam a avaliação do paciente muito mais precisa.
Todos os caminhos levam à transformação digital
Alinhada com os speakers anteriores, Lílian Quintal Hoffmann, Diretora Executiva de Tecnologia e Operações do Hospital Beneficência Portuguesa (BP) de São Paulo, determinou na palestra “Nova Saúde Digital” que para alcançar a transformação digital não basta comprar uma plataforma, “ao contrário, são uma série de etapas que incluem logística, implementação, treinamento e legislação, entre outras.”
Além disso, destacou que “é importante ter um planejamento de longo prazo e saber em que estágio se encontra a instituição” e citou o roadmap da Gartner, que contempla diferentes horizontes de 2, 5 e 10 anos, com evolução para a transformação digital total. “Nosso objetivo é nos tornarmos disruptores digitais“, disse ela.
Por outro lado, a especialista referiu que “o novo conceito de analfabetismo digital exige novas habilidades” e garantiu que, para qualquer instituição, a alfabetização analítica e de dados serão competências essenciais. “Os dados são de entrada e saída, pois geram algoritmos que depois são utilizados por empresas com finalidade comercial”.
A nova saúde digital é um cenário que se reinventa, “que exige legislação adaptativa, que se beneficiou da liberação da telemedicina com a pandemia, e que implica a adoção de novas tecnologias e novos modelos de negócio”, concluiu.