No dia 13 de março nosso país foi protagonista da conferência global HIMSS Orlando 2024, com o Brazil Summit O encontro reuniu importantes líderes do setor, para compartilhar experiências e desafios urgentes que afetam o atendimento médico e a digitalização em saúde do Brasil.
Por María Eugenia Perazzo
Nosso país teve o privilégio de contar com um ponto de encontro próprio para os atores do setor de tecnologia em saúde. O objetivo do encontro brasileiro foi pensado para a troca de experiências regionais, uma ótima oportunidade para conhecer o panorama sobre diferentes tópicos de digitalização em saúde no país. Os painéis estiveram a cargo de referentes de grandes empresas destacadas na área da saúde e apresentaram-se múltiplos aspectos de debate ligados à tecnologia aplicada à saúde; trataram-se temas como a digitalização na saúde, o uso da Inteligência Artificial (IA), a realidade sanitária no Brasil, a inovação e os desafios tecnológicos.
Com o Dr. Mariano Groiso, HIMSS Advisor para América Latina, como mestre de cerimônias, o primeiro eixo da jornada foi planejado para focar na Inteligência Artificial (IA) aplicada ao setor da saúde. A respeito, o Dr. Cláudio Giulliano, CEO da Folks, conversou sobre um tema de suma relevância não só para o Brasil, mas para toda a América Latina: como melhorar a performance no ciclo da receita. “A Revenue Cycle Management, ou ciclo da receita, que é o termo que a gente usa no Brasil, define o ciclo completo, isto é, nasce ainda na negociação comercial do prestador de serviço com a fonte pagadora e vai até quando o dinheiro entra na conta”, indicou. Por outro lado, Fernando Ferraz de Toledo Machado, CEO da Hospital Care, chegou à seguinte conclusão: “a estrutura inicial não facilita o funcionamento fluido, pois tem uma série de derivados, processos, sistemas, cadastro que são antigos; estes pontos precisam ser endereçados, pois são transformacionais para ter um ciclo de receita mais fluído”. Se bem ambos os palestrantes apresentaram uma visão similar sobre a abordagem de tecnologias digitais, o representante da Hospital Care adicionou que o foco nesses dois últimos anos foi ter as pessoas corretas, e que afirmou que esse é um pilar fundamental da empresa no ciclo da receita.
O painel liderado por Wagner Amaral, o Growth Markets Health Industry Lead da Avanade, por outro lado, esteve baseado nas abordagens da estratégia e a implementação, os principais desafios que cada cliente enfrenta e os objetivos futuros da IA na saúde. Como guia deste painel, apresentou-se o valor que a IA oferece à indústria e qual é o plano estratégico para a sua adoção, como também estratégias para dar um melhor uso à IA nas organizações de saúde. A Avanade, por exemplo,“conta com um serviço chamado AI Ready Healthcare, que procura acompanhar à organização na busca de valor da IA; o objetivo é escalar o valor para que as organizações estejam preparadas para utilizá-lo, e depois aplicar todas essas capacidades juntas para que essas mesmas organizações possam estar prontas para dar o pulo y valorizar a IA”, explicou o líder de crescimento dessa empresa.
Para ilustrar o potencial de suas ferramentas, Avanade convidou dois aliados nacionais de renome, que compartilharam suas experiências e perspectivas. Na visão de João Alvarenga, Executive Director for IT and Digital do Grupo Fleury, ele afirmou que a automação da IA pode aumentar a receita e obter maior engajamento por parte dos novos pacientes, mas que um dos grandes pilares da transformação digital é honrar o tempo do cliente, porém admitiu que o grande foco ainda está no mercado B2C, para o Fleury. Seguindo esta ideia de otimizar tempos, decidiram atualizar seu sistema de CRM com a Avanade,parceria quefuncionouperfeitamente já que os objetivos da empresa foram cumpridos e o rendimento foi aprimorado notavelmente. Desde uma perspectiva clínica, Igohr Schultz, Chief Digital Technology Officer do Hospital Israelita Albert Einstein, relatou: “já tem mais de 140 soluções que usam IA dentro da instituição. Boa parte delas são desenvolvidas internamente, estão a cargo de um grupo de especialistas. A gente tem uma comunidade de dados e cientistas composta por mais de 250 pessoas, em que colaboram mais de 50 médicos e cientistas mesmo trabalhando em soluções”. Por sua vez, Schultz remarcou a importância de ser cuidadosos na hora de implementar estas ferramentas; dado que são referentes em sua área, devem testar muito bem as soluciones para garantir e identificar possíveis inconvenientes desses modelos antes de chegarem ao paciente.
Desafios numa área com diferenças de Maturidade Digital
Se bem a mudança cultural já representa um desafio em si mesmo, cada organização também deve lidar com suas próprias limitações e prazos de digitalização. Segundo o representante da Prevent Senior, Fabricio Machado, Director of Innovation and Technology Incorporation, “a inteligência artificial é uma ferramenta que já temos disponível, inclusive são milhões de instrumentos que podem ser utilizadas, mas o problema é que o sistema de saúde não é sustentável, e que é necessário discutir ferramentas para que a qualidade e o custo sejam equilibrados e principalmente, acessíveis”. De todas as maneiras, à medida que se incorporam estas tecnologias, algumas barreiras são superadas, mas surgem outros obstáculos. Para Maíra Costa, Business Manager, Supplies & Solutions da Zebra Technologies, “a gente sabe hoje que a inteligência artificial não vai substituir ninguém, e com certeza pode acelerar processos, implementar optimizações automáticas, aumentar a velocidade e a precisão, mas não devemos menosprezar a importância da qualidade, não é um desafio tão simples”. Aqui surge um ponto que foi o fio condutor deste painel: ainda existe muita operação em papel, isto é, uma grande parte do sistema de saúde ainda não está digitalizado, o que demonstra uma clara diferença de maturidade digital; por isso, antes de implementar a tecnologia, é preciso detectar os problemas e oportunidades, entendê-lo e focar em resolvê-los.
Aprofundando nesta temática, o time do Cura Grupo publicou recentemente um portal de resultados de exames clínicos, devido a que ainda não contavam com essa possibilidade, porém encontrou um novo desafio: descobriram que 40% da população daquela clínica nem sequer tinha e-mail cadastrado ou usavam telefone, “então, como é que eu implemento um portal de resultados considerando que os pacientes não têm essas ferramentas? Certamente, tem um desafio grande e é certo também que essa realidade não é para todos, tem muito imaturidade de uso de tecnologia nas instituições”, compartilha Atualpa Carvalho Aguiar, Technology and Digital Intelligence Director desta instituição médica. Nessa mesma linha, Felipe Cezar Cabral, Digital Health Medical Manager do Hospital Moinhos de Vento, destacou que os desafios aos que se enfrenta hoje para a inteligência artificial estão ligados à digitalização dos dados: é um problema é complexo, pois a grande maioria da informação ainda não atravessou por este passo prévio. Este especialista considerava que “o principal desafio é esse, a gente traçar um roadmap e atuar sempre nesse caminho para que os resultados possam ser muito melhores e a implementação da IA seja realmente bem aproveitada”.
A Inovação em Saúde No Brasil
Quem também criou um roadmap na sua caminhada por este mundo de transformação digital foi a HCor. Alex Vieira, CIO e Superintendent of IT, Innovation and Digital Transformation dessa instituição, contou que os primeiros passos na jornada de transformação digital foram em 2020. “Mudei o nome, porque TI é onde geralmente as pessoas ligam só para reclamar, então agora é Inteligência Digital, que serve para dar a ideia de evolução”. Desta forma, começou a introduzir o mindset de que a tecnologia impulsiona o negócio, como ele expressou: “a tecnologia não é o negócio final, é a impulsionadora todas as outras etapas”. Por tal motivo, fizeram um trabalho voltado à inovação para entender em qual estágio da transformação digital se encontravam, aonde queriam chegar e estabelecer as metas e o objetivo final. Desde já, este tipo de iniciativas exige muitos recursos que devem dar resultados tangíveis, “a gente precisa estimular a área de negócios para investir em tecnologia e demonstrar que esse investimento e inovação vão trazer um retorno considerável”, disse o CIO da Kora Saúde, Alex Julian. O referente insistiu em que a tecnologia não tem a premissa ser uma área de negócios, mas ser um apoio para o setor com as ferramentas, com os processos e com as pessoas corretas para implementar essa inovação.
Segundo a visão de Victor Gadelha, Head of Medical Innovation da DASA, existem dois braços de inovação, a centralizada e a descentralizada, mas é necessária muita parceria. “É necessário muito entendimento do negócio, e trabalhar baseado tanto nos retornos como em parcerias” adicionou. Por seu lado, graças a uma grande trajetória no mundo e na região, Teresa Sacchetta, Healthcare Director da InterSystems, deu seu ponto de vista sobre como ajudar as instituições na tomada de decisão e ela remarcou que a parceria é fundamental para avançar. Segundo suas próprias palavras, “devemos saber qual é a estratégia daquele negócio e cada um colocando a sua contribuição de forma conjunta”. La especialista ofereceu aos presentes um conselho respeito a este ponto: “é difícil você ter bola de cristal, elencar cada um dos pontos onde eu vou ter retorno e depois, ainda, provar isso e ser acompanhado. Então comecem pequeno, mostrem resultado, cresçam, avancem progressivamente. E é muito importante ter um sponsor, alguém da área que não seja da tecnologia, junto, apoiando, que acredite, que apoie o projeto. E aí é a melhor forma de ir crescendo: passo a passo”.
Por sua vez, o Hospital Pequeno Príncipe, tem tido um grande desafio: “a maior parte dos nossos usuários das tecnologias assistenciais e pessoa administrativo não têm formação nenhuma atrelada à tecnologia; por isso, decidimos ter uma etapa atrelada à etapa educativa,” comentou Luiz Álvaro Forte Carneiro, CIO and Executive Board Advisor deste Hospital. Eles trabalharam muito nesta linha e criaram espaços de debate sobre tecnologia e sobre o rumo que vai tomar.
Algo que foi destacado em vários dos painéis é que existe a necessidade de investimento, há sérios problemas como a falta de atualização nos sistemas e digitalização dos históricos médicos, e é fundamental promover uma cultura de digitalização nas diferentes instituições. Além disso, todos os participantes concordaram que como o valor da transformação digital é iminente, tem que ser um tema fundamental a ser tratado nas agendas dos órgãos mais relevantes e apenas resta articular mais ainda o nosso sector.
Para concluir, um dos oradores comentou que “sem dúvida alguma, compartilhar estes espaços para debater sobre nosso país e seu sistema sanitário dele é um grande passo que nos aproxima a esse objetivo e, esperemos, sejamos cada vez mais atores presentes neste tipo de summits”.