A probabilidade de cometer erros ao inovar é imensa. Faz parte do processo… Os erros nos mostram para onde ir e o que precisa ser melhorado. Não há inovação sem erros
Por Felipe Cezar Cabral*
Quando um dos pilares mais sólidos de uma sociedade é o ato de valorizar as vitórias e esconder as derrotas, aceitar o erro cometido segue sendo um grande desafio. Na vida pessoal, profissional e na vida das empresas também. O medo de errar é uma barreira que, quem ousa quebrar, pode se surpreender com o processo de crescimento.
Já parou para pensar que muitas vezes lidamos de maneira conflituosa com os erros, nossos ou dos outros? De um lado, temos ditados comuns que dizem que “errar é humano” e que podemos “aprender com os erros”. Quem não adora ouvir histórias de retorno em caminho ao sucesso? A famosa jornada do herói? No entanto, do outro lado, ainda parece que os erros não são prontamente aceitos e muitas vezes as pessoas preferem fingir que nada aconteceu ou começar uma “caça às bruxas” para encontrar culpados.
E é justamente essa aversão ao erro que acaba impedindo o processo criativo e de inovação em muitas empresas. Como disse Thomas Watson, que já foi presidente e CEO da IBM, “se você quer aumentar a sua taxa de sucesso, precisa dobrar a sua taxa de fracasso”.
Mas, afinal, o que isso tem a ver com inovação?
Tendo em mente que inovar é resolver problemas reais, ou seja, a solução criada precisa atender a uma necessidade real e ser aceita pelas pessoas, é praticamente impossível acertar todas as possibilidades de problemas. A criação de valor é uma característica definidora da inovação (2). Assim, ao inovar, a probabilidade de errarmos é imensa.
E faz parte do processo. Os erros nos mostram para onde ir e o que precisa ser melhorado. Não existe inovação sem erros (1). Para se manter relevante no mercado como uma empresa inovadora e que explora novos horizontes de desenvolvimento, é essencial contar com equipes e projetos eficientes com capacidade de testar, errar, aprender e acertar o caminho.
Essa maneira de lidar com os erros é uma forte característica das startups. O conceito de pivotar prova justamente isso, já que está relacionado “à revisão do cenário, mudança da perspectiva para identificar oportunidades e, se for o caso, alterar o foco” (3). Inúmeras startups pivotaram – uma ou até mesmo várias vezes – antes de ter sucesso no mercado. Segundo o Mapa das Fintechs Visa, cerca de 77% das startups brasileiras já pivotaram em algum momento.
No ecossistema de inovação, podemos usar ainda o termo “fail fast”. Uma prática que consiste em testar ideias rapidamente, para que assim os erros e falhas sejam descobertos de forma rápida, podendo então resolvê-los ou, se for o caso, abortar a ideia e iniciar outros testes – com o objetivo de economizar tempo e investimento, sem medo de errar (4). O mantra é: errar barato, rápido e pequeno!
O que podemos aprender com as crianças?
O ambiente e a cultura escolar são especialmente inclinados a evitar erros. E a maneira como o nosso cérebro reage, depende em parte de como vemos os erros. Carol Dweck, pioneira no estudo sobre o desenvolvimento pessoal e a personalidade, aborda essa questão em seu TED “The power of believing that you can improve”. É realmente interessante perceber como a maneira que uma nota baixa é comunicada ao aluno pode influenciar negativamente no processo de aprendizagem. Ao incluir a informação “ainda não”, ou seja, você ainda não atingiu o resultado esperado, os alunos se sentem mais motivados a seguir aprendendo e entendem que estão em uma curva de aprendizagem.
Carol Dweck também apresenta dois conceitos interessantes para justificar a maneira como as crianças reagem. Pessoas de mentalidade fixa acreditam que nasceram com um limite de inteligência e, assim, errar é algo insuportável. E com essa crença limitante, elas tendem a evitar desafios e experiências novas, com medo de errar ou de parecerem menos inteligentes (7).
Já as pessoas com mentalidade de crescimento acreditam que sua inteligência melhora pela aprendizagem e que o caminho do sucesso está no resultado do seu trabalho intenso (7).
E são essas duas mentalidades que podem refletir na maneira com que empresas, líderes, gestores e CEOs lidam com o processo de inovação e criação. Quando nos fechamos para o erro, nos fechamos para o crescimento, para o aprendizado e para a inovação. De certa forma isso reforça a ideia de que o processo criativo e de inovação depende de trabalho e, por mais decepcionante que seja, também depende da evolução dos erros (1).
Empresas que fomentam um ecossistema de inovação, criando ambientes não só de segurança psicológica, onde todos tenham espaço para propor soluções, sem medo de errar, mas também que incentivam o processo de aprendizado e ensinam também a como lidar com os fracassos, certamente estão mais preparadas para o sucesso.
*Gerente medico de Saúde Digital, Hospital Moinhos de Vento
Fontes:
1. ARBACHE, Fernando.Normalize o erro para inovar. Baguete, 2022. Disponível em: <https://ww2.baguete.com.br/noticias/06/05/2022/normalize-o-erro-para-inovar>. Acesso em 19 de maio de 2022.
2. FORTES, Bárbara. Inovação: o que é, como fazer e para que serve. Distrito, 2022. Disponível em < https://distrito.me/blog/inovacao/>. Acesso em 19 de maio de 2022.
3. Startup: o que é e como funciona. Distrito, 2020. Disponível em <https://distrito.me/blog/startup/>. Acesso em 19 de maio de 2022.
4. FORTES, Bárbara. Conheça os termos mais usados no ecossistema de inovação. Distrito, 2022. Disponível em <https://distrito.me/blog/glossario-inovacao/>. Acesso em 19 de maio de 2021.
5. HOUGH, Lory. Mistakes Were Made. Harvard Ed. Magazine, 2016. Disponível em: <https://www.gse.harvard.edu/news/ed/16/01/mistakes-were-made>. Acesso em 19 de maio de 2022.
6. CARDOSO, Marília. Como encarar o erro como parte do processo de inovação?. Whow, 2021. Disponível em: <https://www.whow.com.br/opiniao-como-encarar-o-erro-como-parte-do-processo-de-inovacao/>. Acesso em 19 de maio de 2022.
7. FRANCISCO, João. Mindset de crescimento: como se desenvolver como líder adotando a mentalidade de aprendiz. Endeavor. Disponível em: <https://endeavor.org.br/desenvolvimento-pessoal/mindset-de-crescimento-como-se-desenvolver-como-lider-adotando-mentalidade-de-aprendiz/>. Acesso em 23 de maio de 2022.