Um dos principais desafios que se apresentam no processo de otimização de recursos nos hospitais é o da gestão de medicamentos, tendo em conta que o seu altíssimo gasto representa uma parte importante do orçamento.
Por Rodrigo Castro Apablaza*
Neste sentido, a partir do Complexo Hospitalar San José de Maipo, localizado na zona rural-andina de Santiago do Chile, estamos empenhados em avançar com um projeto de informática clínica que nos permita alcançar a rastreabilidade dos medicamentos, desde a recepção do almoxarifado até a administração ou entrega, o que já tem impacto fundamental no fortalecimento da segurança do paciente e na otimização dos gastos com medicamentos.
Neste projeto foi considerada a incorporação de um ecossistema de soluções informáticas integradas que permitisse, além do registro clínico multiprofissional e da monitorização da gestão dos cuidados, alcançar a rastreabilidade dos medicamentos, com foco no rastreamento do lote e da data de vencimento. Tudo isto, desde a recepção no almoxarifado até à administração ou entrega aos pacientes.
Essa rastreabilidade foi alcançada graças à integração dos sistemas de mercado público, almoxarifado, farmácia, posto médico, gestão de atendimento e prontuário eletrônico, que permitiram acompanhar os medicamentos desde a origem até a saída do hospital.
As conclusões deste projeto são duas e muito importantes: por um lado, que os recursos públicos podem ser otimizados e ao mesmo tempo melhorar a qualidade e a segurança dos pacientes; e por outro, que a rastreabilidade do medicamento possa ser conseguida desde o almoxarifado, farmácia, posto médico e gestão assistencial, até à administração ou entrega, deixando todo o registro no prontuário eletrônico.
Durante este processo de Transformação Digital, a maior aprendizagem que tivemos foi reconhecer que o principal desafio não era a solução tecnológica em si, mas sim gerar as sinergias necessárias e a comunicação fluida para alcançar um projeto comum, um trabalho colaborativo e coordenado entre as diferentes entidades, departamentos, unidades e equipes; que, em geral, não trabalham juntos.
Especificamente, o que ganhamos com a rastreabilidade dos medicamentos?
. Se houver um alerta farmacológico podemos agir rapidamente;
. Avançamos na segurança do paciente, garantindo a manutenção da oferta de medicamentos disponíveis para a população;
. Temos visíveis os medicamentos que estão prestes a expirar e mantemos o controle dos desperdícios;
. Somos mais eficientes na gestão de reposição, controlando estoques críticos e medicamentos em uso;
. Mitigamos eventos adversos decorrentes da administração de medicamentos vencidos.
E não vamos parar por aí. Os próximos passos do projeto serão a implantação de um sistema de leitura automática de lote e prazo de validade, padronização (EAN 128; Data Matrix RFID) e a automatização da captura, registro e transmissão de informações, que, sem dúvida, continuará contribuindo para a tarefa final de rastreabilidade.
Impacto projetado nos hospitais chilenos
Tomando como referência a “Análise de Despesas e Mecanismos de Compra de Medicamentos do Sistema Nacional de Serviços de Saúde” do Chile, publicada em 2018 pela Direção de Orçamento do Ministério das Finanças, estima-se uma despesa superior a 1 bilhão de dólares para 2022., com uma tendência ascendente. Se somarmos estes dados aos resultados de otimização no gasto de medicamentos alcançados pela rastreabilidade – estimados durante a implementação deste projeto, entre 5% e 10% – a implementação do modelo de rastreabilidade poderia permitir no Chile a otimização de entre 50 e 100 milhões de dólares, o que equivale à construção de dois ou três hospitais de baixa/média complexidade ou de um hospital de alta complexidade por ano.
* Chefe do Departamento de Saúde Digital e Sistemas de Informação do Complexo Hospitalar San José de Maipo.