Nos últimos dias 25 e 26 de outubro, se realizou uma nova edição do Philips Connect Day no Brasil, um dos maiores eventos de tecnologia e saúde da América Latina promovido pela Philips. Sob o lema “A evolução da saúde: colaborativa, inteligente e conectada” e em sua décima edição, as apresentações giraram em torno da inovação e da transformação digital.
Por Rocío Maure
O lema deste ano do Philips Connect Day enfatiza a condição colaborativa, inteligente e conectada que deve ter a saúde. Com esse objetivo em mente, diferentes palestrantes e especialistas do setor participaram deste importante fórum que busca impulsionar a inovação e a transformação digital para um sistema de saúde mais sustentável e acessível para todos. Por sua vez, a importância das associações estratégicas se destacou, onde as soluções em nuvem e a interoperabilidade serão a chave para potencializar essas alianças.
No início do evento, Shez Partovi, Líder de Inovação e Estratégia da Philips, recordou que a missão da empresa é melhorar significativamente a saúde das pessoas através da inovação. Em um contexto de guerras e graves conflitos em nível mundial, chamou a que mais organizações aspirassem a alcançar esse mesmo objetivo. “No setor de saúde, há um desequilíbrio entre o número de profissionais e a demanda de pacientes, há uma população que está envelhecendo e necessitando mais atenção clínica, conhecemos os desafios, por isso nos propomos a oferecer soluções”, antecipou o especialista. Por exemplo, em resposta à virtualidade, os equipamentos da Philips se concentram em gerar soluções baseadas na nuvem, que estão disponíveis em qualquer lugar. Também abordaram o problema do esgotamento dos profissionais da saúde: os novos desenvolvimentos de software somados à inteligência artificial (IA) para simplificar os processos e já estão trabalhando em estratégias com IA generativa.
No entanto, os diretores da Philips notaram que as equipes de desenvolvimento de software estavam dispersas e que as soluções eram geradas em áreas distintas. Como medida para agrupá-los em uma mesma equipe, dedicaram este ano a criar e fortalecer a Enterprise Informatics, um dos pilares para a inovação da empresa. “Agora temos todas as soluções em um mesmo portfólio, integradas, para dar um melhor serviço aos clientes”, afirmou Partovi. Graças a esta centralização, o especialista em estratégia explicou que a equipe a cargo do desenvolvimento de software tem maior capacidade de reação para atualizar as soluções e modificá-las a partir do feedback positivo e negativo dos clientes. A velocidade de inovação em software é mais rápida que em hardware e permite co-criar soluções com os clientes. Por outro lado, permite criar equipamentos integrados entre PACs, EMR, visualização avançada; ter soluções integradas também facilita o uso dos profissionais da saúde. Por último, a capacitação, o suporte e a implementação são mais simples quando os especialistas estão agrupados em uma mesma equipe.
Tendências da saúde na América Latina
Cada região tem suas próprias vantagens e deficiências que as fazem únicas. Nessa linha, Fabia Tetteroo-Bueno, vice-presidente sênior e gerente geral da Philips para a América Latina, destacou a resiliência da população da nossa região, apesar das dificuldades transversais para todos os nossos países, como a inflação e a instabilidade política. “Nós sabemos viver em um mundo instável. É uma oportunidade, podemos fazer uma grande contribuição. Atualmente, México e Brasil são as economias que mais estão crescendo, tanto em população como PBI; Colômbia, Argentina e Peru estão em segundo lugar”, afirmou Tetteroo-Bueno. No que diz respeito aos desafios, 30% da população não tem acesso a serviços de saúde; o setor público não pode abarcar tanta demanda e o setor privado não pode cobrar mais que um certo montante. Por outro lado, desde a pandemia, a população está muito mais consciente da prevenção, há uma população jovem que deseja viver de forma saudável, o que aumenta a demanda de novas estratégias. Mesmo assim, a inovação será mais rápida do que as regulamentações em todos os países.
Para somar informações necessárias na hora de plantar novas estratégias, a especialista apresentou alguns dos resultados do relatório da Philips, Future Health Index deste ano. Através de uma análise de 14 países do mundo e diversas entrevistas com profissionais da saúde, o relatório demonstrou que todos os países desejam ter um sistema único de saúde; que a inovação com telemedicina e sistemas de informação para que o paciente tenha mais acesso e esteja mais próximo do corpo clínico é uma das prioridades; que há muito interesse e necessidade no manejo de doenças crônicas, tanto na detecção como na prevenção; e que os médicos jovens buscam trabalhar na sustentabilidade do setor. Da mesma maneira, a mudança climática não é um detalhe menor: o setor da saúde é responsável por 4,5 a 8,5% dos gases de efeito invernal, por isso a Philips está trabalhando para gerar sistemas mais econômicos e também mais amigáveis com o ambiente. Como resposta a essas tendências e à crescente falta de profissionais, a líder da região detalhou que “a IA nos está ajudando a melhorar a capacidade dos estabelecimentos. Não só o diagnóstico é mais rápido, mas também a operação do hospital. É uma grande combinação”.
O EMR como ponto de partida
Uma das principais ferramentas para a digitalização do setor saúde é o prontuário eletrônico (EMR). Para a Philips, a cibersegurança e a privacidade dos dados são prioridades: “assumimos uma responsabilidade para com os pacientes, mas também para com a equipe médica. Hoje em dia, a informação médica tem mais valor do que a informação bancária para crimes cibernéticos”, explicou Tetteroo-Bueno. Por sua vez, Shiv Gopalkrishnan, EMR & Care Management Leader, iniciou sua palestra apresentando a mais recente inovação da Tasy, com uma demonstração ao vivo do assistente digital remoto com reconhecimento de voz para simplificar tarefas. Esta solução EMR representa a maior comunidade da América Latina, com mais de 14.000 membros, incluindo organizações HIMSS Nível 7. “Impactamos 95 milhões de vidas na região e sempre levamos em consideração o feedback dos clientes, por isso é o segundo ano que temos a honra de receber o prêmio Best in Klas”, reconheceu Gopalkrishnan.
Repercutindo a referência brasileira, ele insistiu na importância da segurança e destacou que, no Brasil, o Tasy é o único prontuário eletrônico que possui aprovação da Anvisa, agência reguladora brasileira que considera o software como um dispositivo médico. Grande parte do investimento de recursos da empresa é dedicado à inovação, sem perder o foco na segurança do paciente. Na verdade, 10% do orçamento mundial é investido em segurança cibernética. Esta estratégia não só protege os pacientes, mas também facilita os processos regulatórios, que a empresa já antecipa. “Em breve todos os países exigirão certificações para soluções EMR, como já está acontecendo nos Estados Unidos, na União Europeia e no Brasil com a Anvisa”, alertou o líder da EMR.
Como potencial da solução EMR própria, o gestor destacou 3 tendências: a evolução para um modelo híbrido, onde há atendimento virtual até dentro do hospital; uso de IA e automação para simplificar processos, como comandos de voz; e a perspectiva de “redefinir o que é possível” graças às possibilidades da IA generativa. Além disso, dividiu o palco com seu colega Javier Martínez, que detalhou as possibilidades do assistente remoto do Tasy: “os comandos de voz permitem navegar no sistema, documentar informações, incorporar receitas ao sistema, iniciar fluxos de trabalho e recuperar dados rapidamente”. Martinez esclareceu que esta funcionalidade estará disponível em breve na próxima versão do Tasy.
De qualquer forma, esse avanço é apenas um dos planos dessa solução. Conforme explicaram os dois especialistas, o objetivo é introduzir IA generativa para melhorar a documentação clínica por meio de comandos de voz, oferecer insights e ferramentas para que o profissional trabalhe com mais eficiência, e uma plataforma específica de monitoramento, para que seja remoto. Por sua vez, o líder da equipe EMR reconheceu que precisam da contribuição de parceiros que possam resolver problemas que eles não conseguem. “Já assinamos contratos com mais de 40 parceiros certificados e que têm um relacionamento sólido com a Philips”, comentou Javier Martínez, destacando que procuram criar um ecossistema através de APIs abertas com FHIR 7 e ambientes de teste que os parceiros possam usar para se conectar diretamente para a solução.
“Em um futuro próximo a interação com os laudos vai mudar, os profissionais poderão conversar com as imagens, com o histórico clínico. O paciente também poderá interagir em um nível mais simples, para compreender melhor as decisões clínicas. Este recurso também estará disponível a nível administrativo, onde um avatar poderá descrever o estado da organização”, previu Shez Partovi, em linha com o progresso que foi apresentado ao longo do evento.
Sem dúvida, uma única empresa não pode cobrir todas as necessidades, mas pode criar o ecossistema que serve de base para reunir os diferentes atores do setor. “A transformação digital está dando passos gigantescos e é uma grande oportunidade para a América Latina. Temos que trabalhar juntos como um ecossistema, toda a indústria, os profissionais, o governo de cada país, trabalhar digitalmente para melhorar esta realidade”, concluiu Fabia Tetteroo-Bueno.