É possível evitar o colapso dos sistemas sanitários?

Entrevistas

Por Daniela Chueke

O sistema sanitário dos países da América Latina, assim como o dos europeus encontra-se perante a necessidade urgente de repensar o seu modelo atual de organização, caso contrário, caminharia rumo ao colapso.

O diagnóstico corresponde a vários estudos realizados pela Unidade Global da Ehealth da Telefônica, segundo os quais a explicação baseia-se na observação de uma tendência paradoxa: à medida que a saúde da população melhora, torna-se mais difícil garantir seu atendimento no futuro.

De acordo com as conclusões chegadas através dos estudos mencionados, a contradição é somente aparente, e a explicação é mais simples do que se poderia supor. Dado que as melhores condições sociais e sanitárias aumentam progressivamente a esperança de vida (quase 84 anos na Espanha, e 75 na Argentina), ao mesmo tempo aumenta a população de terceira idade, situação que implica a prolongação, no sistema, das doenças crônicas que requerem tratamento e atenção médica permanente.

Atualmente ocorre que as doenças que até há cinquenta anos atrás eram consideradas terminais nos adultos jovens, hoje, graças aos avanços da medicina, essas mesmas doenças, como por exemplo a diabete, as condições cardiovasculares e afecções respiratórias transformaram-se em afecções crônicas frequentes em grande parte da população mais envelhecida.

Algo similar, mas com particularidades próprias dos diferentes países da região sucede na América Latina.

Desse modo, os máximos responsáveis pela Vertical de Saúde da Telefônica, Fernando Cortiñas, Diretor de Market Developement de e-Health Reporter Latin America e Raul Urrutigoity, Gerente Regional na América Latina da e-Health, descrevem o cenário atual e o futuro da e-Health na região em uma longa entrevista com EHealth Reporter Latin America realizada no escritório da multinacional em Puerto Madero, Buenos Aires, de forma presencial e através de uma audioconferência com Madrid.

 

EHealth Reporter Latin America: Qual é o desafio assumido pela Telefônica no setor da saúde?

Fernando Cortiñas: A situação que os sistemas sanitários de todo o mundo, não só os europeus, atravessam hoje, é um crescimento elevado do gasto sanitário que faz com que no futuro os sistemas não consigam sustentar-se da maneira que estão organizados. Os estudos solicitados pela Comissão Europeia calculam um incremento anual de 5,5% em dito gasto, o qual em um momento, muito antes do esperado, produzirá uma fratura econômica e, inclusive antes dessa quebra, provocará a deterioração progressiva da capacidade e da qualidade da assistência por parte dos centros de saúde, dos serviços sociais e das administrações públicas, onde a escassez de funcionários no setor sanitário piora esse panorama.

Diante desse cenário, não há que desesperar-se. Pelo contrário, na Telônica estamos certos de que a inovação tecnológica pode mudar radicalmente essa predição. A e-health que inclui desde o desenvolvimento de ferramentas de gestão, telemedicina e teleassistência baseada nas TIC é, sem dúvidas um fator chave que logrará reduzir os gastos sanitários, assegurar o alcance universal do atendimento sócio-sanitário e melhorar a sua qualidade.

EHRLA: No que diz respeito especialmente à região, como se projeta a unidade da Telefônica de e-health na América Latina?

Raúl Urritogoity: Faz seis anos a Telefônica realizou um estudo setorial da região que foi publicado em 2008 e detectou que dentro do que a nossa empresa considera os grandes clientes, o setor das empresas de saúde é um dos que evidenciam maior crescimento.

Em função desse cenário, a Telefônica reclassificou sua forma de abordagem comercial. Por isso, há oito meses criaram-se, na matriz da empresa, na Espanha, um total de 7 novas unidades internacionais que chamamos “verticais”, entre as quais encontra-se a Vertical de Saúde. Seu objetivo é apoiar a cada uma das operadoras locais da companhia, particularmente na América Latina, para dar soluções aos clientes da área de saúde que requerem um apoio da matriz. Isso nos permite estar preparados para crescer com o cliente.

EHRLA: Como poderia descrever a estratégia da Telefônica na área da Ehealth para a Região?

FC: Nosso objetivo é contribuir para a transformação do setor sanitário rumo a um modelo mais conectado e sustentável, brindando um mapa de soluções e serviços de e-health baseado em seis ações: conectar melhor os pacientes com os seus médicos, mobilizar as ferramentas dos profissionais para melhorar a sua produtividade, levar o hospital para a casa, aportar tranqüilidade e assistência, interconectar os profissionais e facilitar o seu acesso à informação e, por último, despregar as infra-estruturas e redes necessárias.

RU: Estamos trabalhando fortemente na expansão do negócio de saúde conectada. Nesse momento na Argentina estamos ocupando-nos em brindar soluções importantes como a gestão de ambulâncias do PAMI, a unidade móvel do Hospital Anchorena, o serviço de telediagnóstico por imagens em Galeno ou brindar soluções de telepresença no Garrahan, entre outras.

EHRLA: Mas esse tipo de soluções já estavam em condições de brindá-las antes da criação da Unidade de e-health, certo? Como se explica que uma operadora de redes decida entrar na indústria dos cuidados sanitários?

FC: A Telefônica decidiu participar da indústria da e-saúde porque o seu desenvolvimento envolve uma parte sensível do nosso negócio como as comunicações e o hosting. O sistema de saúde tende a constituir-se em um sistema conectado em rede e para que isso seja possível é imprescindível contar com boas vias de comunicação. Por isso, quando falamos de saúde conectada temos que entender que não haverá e-health sem a participação dos operadores de comunicações, assim a Telefônica adere-se com uma proposta de valor agregado e cria a Unidade Global de e-Health. Isso significa que, além de brindar redes de telecomunicações estamos em condições de desenvolver aplicações sobre as quais é possível intercambiar conteúdos médicos.

EHRLA: Que tipo de soluções vocês desenvolveram até agora?

FC: As soluções de Telemedicina atravessam verticalmente todo o sistema: a organização dos centros de saúde, os sistemas de trabalho dos profissionais e o tratamento e seguimento dos pacientes. Contamos com uma variada classe de soluções que permitem conectar os pacientes com os hospitais e estes entre si.

EHRLA: As soluções surgem a partir de uma demanda particular ou brindam soluções estandarizadas?

RU: Trabalhamos em ambos sentidos. Por um lado, estudamos o setor e quais são as soluções necessárias para desenvolver um produto que se comercializará, como é o caso de um polisonógrafo que permite realizar estudos de sono no domicílio do paciente e telediagnosticar através de um datacenter. Por outro lado, de acordo às necessidades particulares de cada cliente realizamos consultorias que resultam em soluções customizadas para esse cliente particular. Fazemos a integração dos diferentes equipamentos e ao longo do tempo, as soluções que são replicáveis transformam-se em novos produtos.

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