No âmbito do evento HIMSS Global 2023, realizado em Chicago entre os dias 17 e 21 de abril, ocorreu o LATAM SUMMIT, que reuniu os líderes de Saúde Digital de nossa região. Por meio de diferentes palestras, foi analisado o estado da interoperabilidade, prontuário eletrônico, telemedicina, inteligência artificial e inovação aplicada em diferentes países.
Por Rocío Maure
Na primeira palestra de especialistas, Alejandro Gil, CEO de Hospitales Puerta de Hierro de México, resumiu a digitalização como um processo para “resolver os problemas existentes com diferentes soluções”. Como exemplo, ele citou o projeto de tracker de pacientes, para agilizar a alta que, por questões burocráticas e intercâmbios com seguradoras, pode levar entre 6 e 8 horas. Para alcançar esta solução, esta cadeia de hospitais recorre a facilitadores tecnológicos e aposta na avaliação dos seus processos internos.
Por sua vez, o Centro Médico ABC do México também busca dar mais controle ao paciente, apostando na inovação clínica e na segurança para alcançar níveis de excelência. “Há uma série de contradições: temos equipamentos de altíssima tecnologia, mas a experiência do paciente ainda é rudimentar”, disse o CEO, José Zubiría.
Um bom primeiro passo é definir o que é inovação. “Iniciamos um diagnóstico para analisar esse conceito. Há muita inovação na pesquisa clínica, mas também nas questões assistenciais, nos processos de eficiência operacional. Começamos com o diagnóstico, queremos sensibilizar toda a comunidade para que entendam o que é inovação”, explicou Juan Gabriel Cendales, CEO da Fundación Cardioinfantil de Colombia. O especialista destacou que hospitais não aparecem nos rankings de inovação da Colômbia, por isso estão avaliando os critérios de outras empresas para que a inovação tenha impacto no paciente.
Da mesma forma, uma grande história de sucesso de uma organização totalmente digitalizada é a do Hospital Regional de Alta Especialidade de Ixtapaluca, no México. Sua CEO, Dra. Alma Rosa Sánchez Conejo, comentou que atualmente eles estão trabalhando na recepção de dados de pacientes encaminhados em tempo real e estão inovando na análise de dados por meio de plataformas para patologias específicas. Também contam com serviços de telerreabilitação e cuidados paliativos para diversas especialidades.
Uma ferramenta para aprofundar a inovação é a Inteligência Artificial (IA), afirmou o moderador desta palestra e CEO da solução AhoraDoctor, Guillermo Borel. A Dra. Sánchez Conejo destacou a possibilidade de vinculá-la à telemedicina para melhorar o atendimento às populações que vivem em áreas remotas e afirmou que será essencial para o atendimento na América Latina. Nessa linha, Alejandro Gil afirmou que “a aplicação da IA tem que andar de mãos dadas com os processos da organização para trabalhar com rapidez, segurança e maior qualidade”. Ele também comentou que sua organização a utiliza para dar maior segurança aos diagnósticos por imagens e como automação para antecipar processos e prever quando serão necessários serviços complementares. Por sua vez, Cendales informou que aplicam a IA em processos administrativos e para diagnóstico precoce durante a pandemia do COVID-19, embora tenha alertado para a falta de regulamentação. Por sua vez, Zubiría disse que “a IA é um facilitador que pode orientar ou desafiar as análises que se realizam, mas neste momento não pode substituir o julgamento de uma pessoa». Para ilustrar esse ponto, ele destacou que as informações dos pacientes são distribuídas em diferentes meios de comunicação e que no México ainda não existe um sistema inter-hospitalar para compartilhar informações.
No que diz respeito à interoperabilidade, os quatro palestrantes concordaram que a troca de informações leva a melhores decisões, não só na saúde, mas também em outras condições operacionais. Gil destacou que permite uma medicina mais preventiva e, do ponto de vista empresarial, é mais eficiente. Por sua vez, a especialista mexicana destacou que “seria conveniente padronizar as plataformas para que possamos nos comunicar mais facilmente entre as organizações e o Estado também deveria colaborar para esse fim”. A contribuição da situação colombiana foi que ainda não há interoperabilidade entre a seguradora e o hospital para que o paciente possa ver todas as informações, mas seria muito benéfico. “Devemos trabalhar juntos em busca da integração e rumo a um sistema único”, disse Cendales. Sem dúvida, o fator humano é essencial em qualquer transformação, por isso “não devemos aspirar ao impossível, mas sim dar pequenos passos para ganhar confiança e criar espírito de colaboração”, concluiu Zubiría.
O caminho para a inovação em diferentes países
Graças à presença de especialistas do Chile, Argentina, Colômbia e Peru, as palestras ofereceram uma visão mais ampla do acesso que gera a tecnologia, o potencial da digitalização para automatizar processos e melhorar a qualidade, e o estado da inovação em cada país. “A tecnologia é muito importante para oferecer medicina de qualidade com baixo custo, devemos atender a importância da saúde preventiva”, afirmou Francisco Fukuda Kaplán, CMIO de RedSalud de Chile.
Nesse sentido, o Dr. Leonardo Yunda Perlaza, Vice-Rector da Universidad Nacional Abierta y a Distancia (UNAD) de Colombia, comentou que o foco da Escola de Ciências da Saúde é diferente ao tradicional, «os programas de formação já incluem informática na saúde, tanto no currículo como na aplicação. Definitivamente, estas capacidades são essenciais para os profissionais do futuro e as instâncias formativas devem fazer eco desta necesidade», disse.
As organizações com maior trajetória na digitalização fornecem ótimos exemplos para ilustrar os benefícios dessas soluções, como o caso do Instituto Cardiovascular de Buenos Aires (ICBA). O Dr. Mariano Benzadon, Diretor de Inovação, Qualidade e Vice-presidente da ACTRA (Associação Civil de Telemedicina) da Argentina, comentou que eles já têm 6 linhas de trabalho definidas: um prontuário eletrônico de desenvolvimento próprio; sistema de teleconsulta; experiência digital para interação do paciente; monitoramento remoto de pacientes (com insuficiência cardíaca, por exemplo); aplicação de inteligência artificial por meio de ferramenta (em desenvolvimento) para diagnosticar dor torácica no pronto-socorro; e soluções digitais para facilitar o funcionamento da instituição.
Com base na experiência do Peru, o Dr. Alfredo Rasmussen Ochoa, CMIO da Clínica Internacional, disse que privilegia a gestão dos sistemas para que conversem entre si e que o paciente acesse uma única base de dados útil nas 4 localidades. “É fundamental trabalhar a gestão da mudança, principalmente em instituições antigas. Nossos principais atores precisam de uma equipe que os acompanhe para alcançar esse nível de transformação”, esclareceu o especialista peruano.
Sem dúvida, a pandemia do COVID-19 foi o grande acelerador do processo de transformação digital na América Latina e no mundo. Assim, foram otimizadas soluções para detecção precoce, vacinação e sistemas de alerta, pois “muitos avanços nascem da necessidade, não de um plano estabelecido”, definiu Fukuda Kaplán. No entanto, na região ainda existem obstáculos e desafios para alcançar uma transformação profunda. Com base no caso chileno, comentou que o sistema de prescrição centralizada é um bom exemplo de inovação a serviço dos pacientes. “Ainda temos dificuldade para que as empresas adotem, mas sabemos do grande benefício que traz. As inovações nos permitem atingir um nível de cobertura que não é alcançado de outra forma”, explica. Por sua vez, o Dr. Yunda Perlaza define a Colômbia como “limitada e promissora”. Ele reconhece que o governo procurou regulamentar a inovação na saúde e estabeleceu leis, decretos, uma reforma sanitária que está tentando promover, mas o investimento é muito baixo. A inovação requer recursos, a falta de recursos é uma limitação”. O especialista argentino também pediu uma articulação entre todos os atores: universidades, hospitais, empresas privadas e o Estado; enquanto o especialista peruano concluiu que “no processo de transformação digital, a transformação é mais importante do que o digital”.
Da mesma forma, todos os palestrantes reconheceram o valor das certificações por entidades externas. O vice-reitor colombiano destacou que mesmo as instituições mais remotas e precárias podem ter uma qualidade superior por meio do processo de acreditação. O Dr. Benzadon disse que «a padronização melhora a qualidade e os processos de certificação ajudam nesse aspecto», enquanto o Dr. Rasmussen Ochoa insistiu que a acreditação não é apenas uma vantagem competitiva, mas também um alinhamento com outras organizações. O representante chileno acrescentou que “não é a certificação em si que ajuda, é o processo anterior: mudar os processos, trabalhar para um objetivo específico”. De certa forma, as certificações vinculam e aproximam as diferentes organizações. “Devemos ver outras organizações como colaboradoras em vez de concorrentes”, propôs o especialista argentino. Nessa linha, o especialista peruano destacou a importância da cooperação de outras instituições e setores: “Outras indústrias imprimem um olhar para o futuro que devemos transferir para o setor da saúde”.
Todos os avanços requerem aprendizado prévio e um evento é mais enriquecedor quando os palestrantes estão dispostos a compartilhá-lo com seus pares. “Quando não há foco na estratégia, perde-se governo, perde-se esforço. É preciso construir um governo que assegure a priorização e mantenha o portfólio atualizado”, disse Fernando Melo Barrero, CIO da Fundação Santa Fé de Bogotá (Colômbia). O diretor da primeira instituição colombiana a ter prontuário eletrônico também destacou a importância de priorizar o que gera valor para o nosso paciente e construir horizontes claros de médio prazo. Além disso, ele convocou a montagem de uma equipe multidisciplinar, porque a transformação não depende apenas da área de tecnologia. “As tarefas devem ser sustentáveis, é necessária uma pluralidade de funções e diferentes experiências; precisamos de especialistas que trazem os novos conceitos e nos aconselhem estrategicamente, mas devem estar integrados a toda a equipe”, afirmou.
Por sua vez, o Dr. Jhonatan Bringas Dimitriades, Consultor para a Transformação Digital da Clínica Internacional do Peru, destacou a necessidade de agregar IA ao diagnóstico e soluções clínicas na América Latina. “A IA pode dar uma grande contribuição por meio do aprendizado de máquina supervisionado para diagnóstico e visão para análise de raios-X, por exemplo.” Como exemplo, citou que na Clínica Internacional estão trabalhando na análise de holters automáticos através da IA na área da Cardiologia, e posteriormente vão implementar esta ferramenta em outras áreas. “Com os testes-piloto europeus, aprendi que se deve implementar uma estratégia tecnológica nas vertentes em que a sensibilidade diagnóstica é baixa ou muito demorada para se chegar a um diagnóstico, seguindo a estratégia clínica e apelando ao conhecimento médico”, alertou o especialista.
Graças a todas essas contribuições, o LATAM Summit demonstrou, mais uma vez, que a união faz a força e que, como todos os palestrantes concordaram, «os outros não devem ser concorrentes, mas todo o setor da saúde se enriquece com intercâmbios construtivos».