Como um médico informático se forma?

Entrevistas

Por Daniela Chueke

 

O Hospital Italiano, através do seu Instituto Universitário fornece a carreira de especialista em Informática Médica, atribuída ao programa de residências do HIBA.

A carreira torna os recém-formados em médicos capazes de apoiar o trabalho de outros médicos. Por isso, inclui ferramentas das ciências de Administração e Gestão Médica assim como o uso de novas tecnologias que estudam ciência da computação e informação. Também por ser uma disciplina nova, a carreira inclui um espaço dedicado à pesquisa sobre o impacto da sua aplicação, para isso estudam-se matérias de epidemiologia.

A formação está diagramada tanto para aqueles que saem diretamente da faculdade como para os que já possuem uma especialização prévia, devendo os primeiros cursar durante quatro anos e durante dois anos, os segundos.

Aqueles que acabam de se formar na faculdade, devem cursar dois anos como residentes da clínica médica Hospital Italiano, realizando treinamentos na assistência ao paciente e conhecendo a dinâmica do hospital profundamente, sua estrutura, seus colegas e as necessidades de informação que os médicos e os pacientes possuem. Durante os outros dois anos, o residente/bolsista trabalha de segunda à sexta das 8 às 18h, a maior parte do dia está envolvido em projetos de melhoria de sistemas de informação no hospital, mas também atuam como consultores para muitas clínicas, sanatórios e hospitais que estão começando a informatizar os sistemas de saúde para que a informação esteja acessível em tempo e forma. Também dentro desse horário e dentro de 2 anos, o residente cursa 16 matérias que fazem parte da carreira de especialista reconhecida pelo Ministério de Educação Nacional e as mesmas matérias são parte de um mestrado que está por vir, o qual permitirá que o residente/bolsista ao terminar o seu curso faça uma tese e obtenha o título de Magister.

Na Ehealth Reporter América Latina queríamos saber como é a experiência daqueles que estão se formando e perguntamos a três de seus residentes atuais:

Andrea Nishioka. Residente do primeiro ano de Informática Médica. Realizou previamente uma residência em Terapia Intensiva.

Alfredo Almerares. Residente de Informática Médica. Realizou previamente uma residência em Pediatria

Diego Salomón. Primeiro residente enfermeiro em Informática Médica.

 

EHEALTH REPORTER LATIN AMERICA: Por que vocês escolheram especializar-se em informática médica?

Andrea: Depois de ter terminado a terapia intensiva queria fazer outra especialidade e me interessava muito a questão da transversalidade dos conteúdos e a possibilidade que a informática fornece para realizar um acompanhamento integral dos pacientes.

 

Alfredo: É a oportunidade de juntar o que é a minha paixão pessoal pela medicina com os interesses que eu sempre tive pela tecnologia, os avanços na gestão da informação e outros. Achava que a área de Informática Médica também é o lugar ideal para desenvolver qualidades no âmbito da investigação e da epidemiologia que foram interesses que me acompanharam ao longo da residência de pediatria.

 

Diego:  A informática também sempre me interessou muito e eu acho que é um desafio aprender como aplicar a informática na enfermagem e, além disso, também é uma satisfação pessoal poder fazê-lo.

 

EHRLA: Por que escolheram o Hospital Italiano?

Andrea: Que eu saiba, é o único lugar que nos dá a possibilidade de poder fazer isso de forma sistematizada, e também porque é um centro de referência em Informática Médica já justificada pelo tempo.

 

Alfredo: Porque é uma referência em nível continental não só em Informática Médica, mas também como instituição acadêmica que tem a sua própria faculdade de medicina, que desenvolve muitos projetos de pesquisa e é a área ideal para se especializar nisso.

 

 

EHRLA: Quando alguém pergunta para vocês: “O que você está estudando?”, como vocês respondem de forma simples?

Alfredo:  Esta é uma das questões mais complicadas e é uma preocupação compartilhada por todos nós que nos dedicamos à Informática Médica. Eu pessoalmente defino e depois tento exemplificar algumas das atividades que nós fazemos. Mas o que eu tento enfatizar é que é um campo novo dentro do que é a ciência da saúde, que é interdisciplinar, porque trabalhamos juntos com enfermeiros, engenheiros, sociólogos para procurar as maneiras de fazer um melhor uso da informação para resolver problemas, para explorar formas de ter um impacto sobre a saúde da população em geral. Nós administramos a informação, e buscamos a maneira de usar a informação que temos disponível.

 

Andrea: E … é difícil. Em geral, as pessoas interpretam que isso tem um espectro muito mais limitado, e que significa que «»eu vou consertar o computador»» e, embora não seja a nossa função, na prática, acontece muitas vezes que finalmente são coisas que acabamos fazendo, pelo simples fato de que, talvez, por dominarmos melhor a tecnologia que outros colegas. Mas se eu tiver a chance de explicar bem, defino como a aplicação da tecnologia da informação para poder ajudar as pessoas na resolução de problemas específicos e gerais da saúde.

 

 

Diego:  Se alguém me perguntar o que é a Informática Médica, eu digo que mais além dos computadores e tudo o que é a primeira coisa que vem à cabeça de alguém, eu explico que é poder ver os processos. Que, ao lidar com um indivíduo, seja saudável, doente, em diferentes níveis de atendimento, o que fazemos a partir da informática é buscar otimizar esses processos de modo que seja mais cômodo e fácil para os funcionários da saúde e que isso seja retribuído ao indivíduo com uma melhor qualidade de atendimento, para dar-lhe uma melhor qualidade de saúde também.

 

Andrea:  Tomara que esse conhecimento seja difundido para o resto da população. Em algum momento vai ser uma necessidade e os governos requererão que isso aconteça na maioria das instituições de forma graduada obviamente, mas que garante que as pessoas possam ter a sua própria informação. É necessário que a informação médica não esteja fragmentada para poder fazer um bom uso dela, para apoderar o paciente e fazer uma série de coisas benéficas que na prática comum, não estamos em condições de fazer.

 

EHRLA: Desde que vocês começaram a residência até agora, de quais cosas vocês gostaram e que aportes receberam para a formação profissional? 

Alfredo:  Há duas coisas que fazemos aqui no Italiano, que é aprender através das aulas que temos designadas todos os dias, diferentes matérias e outros como em residência ou curso de especialização e a outra é aprender fazendo. Nós temos um Prontuário Médico eletrônico que é o coração do nosso sistema e estamos constantemente trabalhando com ele e tentando encontrar maneiras de adicionar aplicativos ou torná-lo mais útil para o trabalho dos nossos usuários que são os médicos.

 

Diego: As aulas que eu tenho são muito boas porque quem ensina são pessoas que na sua prática já fizeram isso que estão ensinando e, por isso, a experiência que nos oferecem é excelente, de primeiro nível e é mais enriquecedora do que ler um livro. O feedback que é gerado com os professores é genial.

 

Andrea: Além de que a parte acadêmica é excelente, todos nós temos projetos que são pessoais, ou fazemos parte de outros, vemos que este ensinamento dado a nós a cada dia, é aplicado nos processos. Vamos entendendo como as coisas acontecem e como melhorar o que cada um está fazendo. O acadêmico e a prática estão de mãos dadas constantemente. 

 

 

EHRLA: Quais são esses projetos em que cada um de vocês trabalha?

Alfredo:  Eu participo de projetos de investigação e de outros que são mais de desenvolvimento. Em relação ao desenvolvimento, estamos trabalhando em um sistema de troca de mensagens formal entre os usuários do site de saúde e os médicos do hospital. Nós já temos um sistema de mensagens, mas queremos aperfeiçoá-lo e fazer com que tanto os clínicos gerais quanto os médicos especialistas possam participar. Com relação à investigação temos um projeto de pesquisa sobre a diabete gestacional, junto com Andrea, para tentar aumentar o acompanhamento das pacientes que são diagnosticadas com diabete gestacional após o parto. Os obstetras estão preocupados porque muitas pacientes não fazem seus exames depois da sexta semana após o parto. É um problema não só local senão mundial, não há muita bibliografia sobre como encontrar formas de resolver isso e estamos tentando desenvolver, colocar em funcionamento e testar para ver se funciona. Com o Diego também temos um projeto sobre dispositivos móveis para que os enfermeiros e as enfermeiras possam fazer o seu trabalho ao lado do leito do paciente, para não ter de ir aos departamentos para anotar dados, com o risco de perda de informações que isso implica. Então, estamos buscando qual é o aparelho que possui maior usabilidade para eles.

 

Diego: Eu também me integrei a um projeto que já estava em andamento, sobre impressoras de etiquetas entre diferentes áreas de serviço e estou participando da capacitação sobre o funcionamento e gestão dessas novas impressoras.

 

 

EHRLA: Como imaginam o futuro profissional de vocês?

Andrea: Há poucos centros de saúde na Argentina que neste momento já instituíram um sistema de registros médicos eletrônicos, alguns nasceram com o seu sistema, e outros têm desenvolvido, como o Hospital Italiano. Apostamos que tudo isso no futuro vai ser difundido e vamos desenvolvê-lo em outros lugares. Eu trabalho para o município e também a minha ideia é trabalhar em parte para centros onde já trabalho agora e, eventualmente, obviamente estar vinculado ao Hospital, que bom, e eu também já me sinto parte dele.

 

Alfredo:  Pessoalmente, tenho a certeza- e isso é algo que nós respiramos aqui neste ambiente – de que a demanda por profissionais em informática médica crescerá. O Hospital recebe constantemente chamados para ir avaliar outras instituições, para dar uma mão. Minha preocupação, se eu tiver alguma, é se chegaria a cumprir com essa demanda por profissionais. Por isso acho que devem incorporar novos profissionais da saúde para que se formem em informática médica.

 

Diego: Eu acho que esta residência é uma aposta segura para o futuro. Isso é visto na forma como os registros eletrônicos estão evoluindo, como os sistemas estão sendo aprimorados, como encontrar o prontuário de qualidade e tudo mais, é justamente o que a informática médica nos proporciona. Eu adoraria continuar trabalhando nesse hospital e também estou muito interessado em ensinar. O e-learning é algo que eu amo e acho que eu gostaria de desenvolvê-lo.

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