A poucos dias da sua apresentação no HIMSS22 Global Conference — Latin America Summit, focado na Transformação Digital em hospitais e organizações de saúde, o presidente da Fundação Cardiovascular da Colômbia comenta o grande progresso que sua instituição fez nos últimos tempos.
Como presidente da Fundação Cardiovascular da Colômbia (FCV), o Dr. Victor Raúl Castillo Mantilla afirma que a eclosão da pandemia acelerou e aprofundou os processos de transformação digital que a FCV já tinha em andamento. “O imediatismo gerado pela digitalização faz uma grande diferença. As pessoas não conhecem esse benefício até que o tenham; e não sabem o que vale até perdê-lo”, diz este cirurgião com especialização em Cirurgia Geral e Cirurgia Cardiovascular.
- Como foi vivida a pandemia dentro da FCV e como ela impactou a instituição?
A pandemia tem sido uma guerra contra um vírus. Assim como trouxe muitas coisas ruins, como aumento da mortalidade, consequências tardias, aumento da insuficiência cardíaca, também trouxe muitas oportunidades. Atrevo-me a dizer que estes foram os dois anos de melhores resultados para a Fundação, tanto em termos econômicos, de desenvolvimento institucional, de nível científico, de crescimento; foi realmente uma revolução dentro da instituição.
Tivemos muito sucesso no enfrentamento da pandemia porque já estávamos preparados. Quando surgiu o SARS-CoV-2, já tínhamos instalado o Hospital Virtual, que permitia a internação domiciliar e as teleconsultas. Com a pandemia, os profissionais de saúde ficaram mais abertos a atender virtualmente e o pânico obrigou as pessoas a mudarem de mentalidade: a telemedicina e o omnichannel foram essenciais para tratar a COVID-19. Agora, todos os controles são virtuais em primeira instância e só são realizados presencialmente quando a situação o justifique.
Por sua vez, já se passaram 4 anos desde que começamos a trilhar o caminho das certificações HIMSS, mas o maior trabalho foi feito recentemente (no ano passado a Fundação Cardiovascular recebeu o EMRAM 6). Estando isolados, muitos profissionais da Fundação se dedicaram ao trabalho e isso foi fundamental para avançar no trabalho interno. Como presidente da Fundação, considero que estes foram os dois anos mais produtivos da instituição e a pandemia foi uma situação que nos ajudou a focar na certificação HIMSS Nível 7, transformando-a num propósito institucional. Nosso objetivo é a mudança de cultura.
- Quanto avançada você acha que a Colômbia está hoje em termos de saúde digital?
Acho que houve uma grande abertura. Por exemplo, todas as instituições utilizaram a telemedicina. E embora a telemedicina não seja o mesmo que a saúde digital, houve muitos avanços e uma melhor aceitação nesse sentido. Também acredito que ainda há um longo caminho a percorrer quando se trata de transformação digital hospitalar.
Muitos acreditam que algumas certificações, como as da HIMSS, são equivalentes a uma ferramenta de TI. Mas a ferramenta de TI é apenas uma plataforma para transformação digital; é um dos componentes, o resto é o componente humano, os processos que implicam poder alcançá-lo. Essa é a chave para uma mudança real. No mundo, muitos trabalham para obter o documento, para fins de competitividade ou marketing, mas a chave é a continuidade no tempo. Dar continuidade é difícil. Deve ser considerada uma estratégia de transformação cultural. Essas certificações, claro, exigem investimentos, mas é um custo que se valoriza no futuro, que aumenta a competitividade e otimiza todos os atendimentos. Obter informações no momento, graças a um mapeamento central de todos os pacientes, por exemplo, oferece benefícios inestimáveis.
- Qual é o maior desafio que a FCV enfrenta ao implementar inovações digitais e como o supera?
O maior obstáculo tem sido a resistência humana à transformação. É difícil deixar o cargo e mudar os passos que foram dados durante 30 anos. Para superar esse obstáculo, é preciso trabalho diário, convicção, comprovação dos benefícios e também exigência de comprometimento. Implica muito trabalho de comunicação e que as coisas funcionem para que as pessoas acessem a transformação. Esse é outro grande desafio.
Além disso, é fundamental criar novas unidades relacionadas a processos e melhorias. Por exemplo, criamos a unidade de dados, formada por uma equipe que é fundamental para alcançar a governança e a gestão adequada dos dados. Contamos com uma unidade de epidemiologia para análise de dados, para melhorar os processos e resultados assistenciais. Por outro lado, nossa Diretoria de Informática Médica dispõe de uma estrutura própria com técnicos, médicos, etc; que trabalham com toda a organização para promover a mudança para a cultura digital, realizar auditorias e fiscalização. Também criamos a unidade de Medicina baseada em valor, uma tendência que existe há 10 anos no mundo, que envolve a revisão de todos os processos para eliminar tudo o que não agrega valor. É uma grande transformação para medir todas as ações em benefício do paciente.
- As instalações da FCV agora possuem uma série de novos recursos do sistema rumo a HIMSS Nivel 7. Dentre essas inovações, quais você destacaria e por quê?
Dentro da mudança para a cultura digital, um grande avanço foi o circuito fechado. Incluímos muitos aplicativos móveis, como o de circuito fechado, com o qual os códigos de barras de medicamentos, os exames, até nutrição parenteral, são escaneados para validá-los através do aplicativo. Isso proporciona maior segurança ao paciente. Embora esse processo já fosse digitalizado e não era impresso, agora é feito junto ao paciente, gerando resultados concretos muito rápidos e visíveis.
Por outro lado, embora já tivéssemos máquinas de contingência, não tínhamos a metodologia exigente que o HIMSS exige, como ter máquinas exclusivas para contingências reais, com cores ressaltadas para que sejam fáceis de identificar.
Por fim, outro diferencial fundamental foram as diretrizes clinicas. Anteriormente, tínhamos alguns protocolos clínicos de forma muito manual através de sistemas legados. Hoje chegamos as diretrizes clinicas, que é uma etapa mais avançada do protocolo, com rastreabilidade e monitoramento do legado pelo sistema digital. Assim conquistamos mais confidencialidade, além de sermos um pilar para a unidade de Medicina Baseada no Valor. Temos cada vez mais caminhos clínicos para controle de gestão.
- Como você poderia resumir a abordagem da segurança cibernética, tão fundamental nesses processos, durante essa experiência?
A cibersegurança é um esforço diário e envolve toda a equipe. Temos mais de 4.000 funcionários em toda a instituição, é um aspecto muito sensível. Já tínhamos uma estratégia de segurança cibernética, mas precisávamos fortalecê-la. O risco nunca pode ser completamente eliminado, mas pode ser minimizado. O perigo sempre latente que exige trabalho diário. Por esta razão, temos um Oficial dedicado exclusivamente a segurança Informática. Além disso, todos os funcionários devem ser treinados diariamente em segurança cibernética, temos atualizações regulares. As senhas para acessar e-mails e aplicativos são alteradas permanentemente. O fator humano é o mais importante. Temos ataques o tempo todo e as ferramentas de prevenção e bloqueio os detectam.
- Em breve você fará parte do HIMSS22 Latin America Summit, em Orlando. Poderia nos dizer quais os temas que você vai abordar e algumas conclusões?
Vamos falar sobre os avanços na gestão de dados, governança. Antes não tínhamos estatísticas reais, por isso o gerenciamento de dados é essencial. O circuito fechado também é um grande avanço, tivemos que fazer uma implantação do zero e já vimos benefícios inestimáveis. O circuito fechado é um grande avanço na segurança do paciente, e acho que deveria ser exigido a todos os hospitais. São mudanças institucionais para mudar a cultura, para nos transformar. Nesse sentido, considero que o balanço da pandemia é enormemente positivo, todos os avanços, mudanças e reconhecimentos aumentaram nossa competitividade. Também acredito que para ter uma cultura digital precisamos certificar HIMSS Nível 7; embora esse não seja o objetivo, mas o ponto de partida. Nosso objetivo final é alcançar a transformação digital.
Graças a essas mudanças, reduzimos as taxas de mortalidade e morbidade, atendemos melhor as pessoas, obtemos informações instantaneamente. O imediatismo gerado pela digitalização, processos computacionais, dashboards minuto a minuto não tem preço. As pessoas não conhecem esse benefício até que o tenham; e não sabem o que vale até perdê-lo.