HIMSS LATAM SUMMIT 2024: Inovação e inteligência artificial aplicada à saúde (Parte 1)

Coberturas PT Notícias

Aconteceu uma nova edição da conferência mundial HIMSS, que este ano aconteceu entre os dias 11 e 15 de março em Orlando. No âmbito deste evento, nossa região teve um ponto de encontro especial no dia 12 de março no Latin America Summit. Se reuniram aí, os líderes de opinião da região para compartilhar experiências e desafios que afetam diferentes países.

Por Rocío Maure

No início da reunião, o Dr. Mariano Groiso, Advisor da HIMSS para a América Latina, atuou como mestre de cerimônias e destacou o crescimento da região em saúde digital. Ao longo de diferentes painéis de discussão, liderados por especialistas de vários países da região, tanto do setor público como privado, foram apresentados diferentes aspectos da digitalização na saúde, com destaque para casos de uso de Inteligência Artificial (IA). O primeiro foco do dia foi a inovação e a interoperabilidade na América Latina, dois fatores que melhoram significativamente o nível de atendimento e aumentam as capacidades das organizações.

Um grande exemplo mexicano de aumento de eficiência e qualidade graças à digitalização de processos é o Hospital Regional de Alta Especialidade de Ixtapaluca. “Foram construídos outros 3 hospitais ao mesmo tempo, mas apenas Ixtapaluca teve verdadeiro sucesso. Isso se deve ao grupo humano, ao comprometimento da equipe e porque entendemos que o universo digital é fundamental”, disse a Dra. Alma Rosa Sánchez Conejo, CEO do Hospital Geral do México. “Além do capital humano, Ixtapaluca é uma referência de liderança que deve sensibilizar a parte operacional, que deve incentivar a dar o salto para a digitalização dos processos”, acrescentou o Dr. Hector M. Zavala Sánchez, Diretor de Operações deste hospital. Ambos os líderes concordaram que uma forma de garantir que as empresas de tecnologia da saúde tenham a oportunidade de trabalhar em hospitais e que esta tecnologia possa ser desenvolvida, é validar essas tecnologias e que elas se traduzam numa melhor qualidade de atendimento. A CEO também reconheceu a importância de medir a eficiência e validar processos, por isso solicitou uma análise da situação à HIMSS. “Como a HIMSS é uma organização fora do nosso país e da nossa própria instituição, a auditoria foi uma experiência árdua, mas muito satisfatória; eles nos deram feedback e nos apresentaram áreas de oportunidade para garantir zero papel”, disse o Dr. Zavala. “Você lidera pelo exemplo, para que outros vejam que é viável. As barreiras estão apenas na mente, não é preciso um investimento tão grande, é preciso um parceiro que tenha experiência e se adapte ao que cada área precisa”, concluiu a Dra. Sánchez Conejo durante o painel de discussão moderado por Guillermo Borel, CEO de Ahora Doctor e partner de HIMSS Analytics para a região.

A partir de sua experiência no setor privado, Eduardo Verboonen Khoury, co-presidente dos Hospitales MAC do México, também reconheceu o valor de entidades externas como a HIMSS e enfatizou a interoperabilidade. Da mesma forma, afirmou que o Estado deve estabelecer uma aliança com o setor privado e sustentou que “é necessária uma plataforma geral, com características essenciais, para que os pacientes possam receber cuidados constantes tanto na esfera pública como na privada”. Além das novas tecnologias, o representante mexicano considerou que a maior inovação surge de ter “soluções que funcionem para ambas as partes, trabalhando na eficiência e nos controles para satisfazer as esferas pública e privada, tendo um padrão para o país”. Por sua vez, Federico Pedernera, Secretário de Qualidade do Ministério de Saúde da Argentina, insistiu que para inovar é fundamental conhecer o setor. Reconheceu, por sua vez, que os países latino-americanos têm sistemas de saúde muito fragmentados, com restrições econômicas, políticas, mas também de interesses. “Os atores que geram a agenda da política de saúde devem ter vontade e capacidade de interagir com todos os subsetores que compõem o sector da saúde para ter um estado de situações claro, expectativas baseadas em capacidades e competências. O desafio é conseguir uma agenda de saúde que seja viável, então o mais conveniente é ter metas claras e trabalhar com planos curtos”, afirmou.

Panorama local

Cada país enfrenta os seus próprios desafios e estabelece as suas regras e regulamentos. Em todo o caso, existem limitações comuns a toda a região, como a necessidade de investimentos, e problemas que afetam todos os continentes, como a escassez de pessoal de saúde. Durante o Summit, foram apresentadas diferentes estratégias para enfrentar estes desafios. “Na República Dominicana faltam infraestruturas e faltam talentos humanos, faltam entre 4 e 5 mil camas segundo os parâmetros da OMS, faltam também 15 mil enfermeiros”, disse o Dr. Gastón Gabin, CEO da Integra Health Management, e acrescentou que “a nível global, enfrentamos uma maior procura de serviços de saúde com menos profissionais e custos mais elevados”. Como estratégia para mitigar a escassez de pessoal e desenvolver um sistema que ainda não está digitalizado, a abordagem foi a padronização. “Geramos um primeiro projeto há 3 anos, o Centro Médico de Diabetes, Obesidade e Especialidades (CEMDOE), onde a instituição e a cultura eram tão replicáveis ​​quanto possível, e hoje somos o primeiro centro do país a obter a certificação do Joint Comission com mais de 500 pessoas”, afirmou.

Em linha com outros oradores, destacou a importância da articulação entre o setor privado e o setor público. “Queremos cometer o mínimo de erros possível e agregar valor. E nós aqui reunidos temos um diferencial: para os nossos países, a saúde é um direito. Nesse sentido, temos a responsabilidade final de maximizar essa cobertura com um modelo de negócios que seja sustentável ao longo do tempo.”

No Chile, a Clínica Dávila também trabalha com os dois setores. “As regulamentações no Chile mudaram muito desde 2012, quando foram lançadas as bases para que os pacientes fossem os proprietários da informação. Em 2023, a Lei da Interoperabilidade foi discutida, graças às lições aprendidas durante a pandemia. O trabalho conjunto foi valorizado e obteve reconhecimento mundial”, recapitulou Ignacio Tomás Briones Tagle, Clinical Information Systems Coordinator da clínica. Pela sua experiência, explicou que desde 2019 trabalham em rede com prestadores da mesma holding e os pacientes podem continuar os seus tratamentos em outras clínicas. “Temos trabalhado ao nível de prontuário eletrônico com intervisibilidade: o médico pode visualizar toda a informação de qualquer um dos prestadores e os resultados de exames de laboratório e imagem”, explicou. Na Clinica Angloamericana do Peru também estão trabalhando na interoperabilidade e nos prontuários eletrônicos, graças à implementação da ferramenta TrakCare. “No Peru temos muito fracionamento, cada sistema é isolado; mas dentro desse fracionamento existem diferentes capacidades de reação devido a aspectos tecnológicos, equipamentos médicos e distâncias geográficas. A interoperabilidade é muito complexa. Mais do que leis, precisamos de pessoas nos setores que tomem decisões com uma mentalidade aberta à inovação”, alertou Gonzalo Garrido-Lecca Álvarez Calderón, CEO da clínica. O representante peruano recomendou “trabalhar na análise dos processos, incluindo tanto os executores quanto os pacientes nos comitês administrativos e considerando a transformação cultural”.

Espera-se que as organizações com anos de experiência sejam forçadas a repensar a sua estrutura e modelo de negócio quando se tornarem digitais. É o caso do Hospital Clínica Bíblica da Costa Rica. “Adotamos uma abordagem interna, que procura envolver os recursos humanos do ecossistema para detectar oportunidades, e também externa, através de um Centro de Inovação em Ciências da Vida, para atrair projetos e startups do sistema a quem ajudamos a fazer parte do setor saúde”, explicou Roberto Vargas Yong, Diretor de Operações, desta instituição. O especialista costarriquenho esclareceu que estão avaliando alguns assistentes virtuais, como reconhecimento de voz e ferramentas de análise. “A chave é que existe um banco de dados confiável. Estamos no papel há muitos anos, sistemas antigos desenvolvidos à medida que se tornaram obsoletos. Por isso recorremos a dois aliados tecnológicos para atualizar o core administrativo-financeiro e logístico, por um lado, e o core clínico, por outro”, explicou.

Graças à sua vasta experiência na região, o Dr. Alfredo Almerares, Clinical Executive manager de InterSystems, confirmou a importância de ter regras claras e tecnologia disponível para então criar os casos de uso necessários. Para ilustrar a importância de alinhar as expectativas dos diferentes atores, ele utilizou a parábola do elefante e dos cegos e estabeleceu que “todos os atores tem razão, uma parte da verdade, mas o problema geralmente é que não é compartilhado um valor macro que afeta a todos, o benefício direto não é percebido. Governaça não é dizer aos outros o que têm de fazer, é convencer e mostrar os resultados.” A título de exemplo, o especialista da InterSystems compartilhou a experiência no Reino Unido com a iniciativa CoordinateMyCare, onde os incentivos de todas as partes interessadas foram alinhados através de um formulário para pacientes e teve muito sucesso: os médicos têm menos incerteza porque podem tomar decisões informadas, os pacientes se sentem ouvidos e há um maior retorno do investimento (44 vezes) para os pagadores. “Na América Latina a tecnologia já está disponível, só falta a coordenação de todos os atores para definir casos de uso e avançar. Inovar é aplicar o que já sabemos que funciona; “Isso por si só é uma idéia revolucionária”, disse ele. A empresa, que já conta com mais de 300 implementações no Chile, também trabalha com líderes como a Clínica Anglo-Americana no Peru, a Clínica Mederi na Colômbia e a Clínica Bíblica na Costa Rica. O Dr. Almerares também pediu o uso sensato da IA. “A IA generativa já está integrada às ferramentas da InterSystems, mas só temos uma oportunidade de aplicá-la bem, é uma mudança de paradigma. Já existem as normas, as regras necessárias para utilizá-las corretamente e respeitar o princípio básico da medicina de não prejudicar o paciente”, concluiu.

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