Com participantes presenciais e remotos, o evento HIMSS foi realizado no dia 8 de fevereiro no âmbito do Digital Health Connections na Cidade do México. Durante o evento, palestrantes de alto nível abordaram a Agenda de Saúde Digital do México, seu progresso em todos os territórios, bem como as maneiras pelas quais a tecnologia está melhorando o atendimento à saúde.
Por Rocío Maure.
O objetivo do evento foi a troca de experiências dos setores público e privado, da esfera política e de organizações afins. Desde o início das palestras, o foco foi o futuro do sistema nacional de saúde no México e reuniu líderes proeminentes de todo o país, apresentados pelo Dr. Mariano Groiso, líder de HIMSS para América Latina.
O deputado federal Éctor Jaime Ramírez Barba ratificou o compromisso político de avançar com a Lei de Saúde Digital e destacou o impacto da tecnologia digital na saúde no México. “É preciso diferenciar saúde de assistência médica; tendemos a focar nos cuidados médicos e sabemos que a prevenção pode ter um impacto muito maior do que nós, legisladores, imaginamos”, insistiu.
Da mesma forma, o Deputado reconheceu o grande valor proporcionado pelas teleconsultas, prescrições digitais, wearables, bem como outros avanços tecnológicos que, acima de tudo, promovem o acesso à saúde e facilitam o diagnóstico e tratamento.
É inegável que, além da política, a educação tem um papel fundamental na evolução rumo à saúde digital. Guillermo Domínguez-Cherit, Decano Regional da Faculdade de Medicina TecSalud do Tecnológico de Monterrey, ilustrou o estado do sistema de saúde no México, as tendências de pesquisa e pediu a atualização dos programas de estudo para que contemplem novos procedimentos com base nos novos recursos tecnológicos disponíveis.
Da mesma forma, o especialista acadêmico insistiu na importância da inteligência digital para o atendimento clínico, ponto no qual a maioria dos expositores concordou. “A pandemia nos deu a oportunidade de conhecer muitas oportunidades que a saúde digital nos oferece, mas devemos reordenar o sistema de saúde e aprofundar a educação e a pesquisa em saúde”, concluiu.
Como Diretor Geral do Consorcio Mexicano de Hospitales, Humberto Javier Potes González é uma autoridade em gestão hospitalar e reafirmou a necessidade de “propor um novo sistema de saúde”. O especialista reconheceu os avanços alcançados até agora, mas insistiu que o sistema de saúde mexicano deve evoluir porque “a transformação digital em saúde não é colocar em prática soluções de TI em modelos obsoletos, mas implementar novos modelos de atendimento apoiados em soluções digitais.”
Com planos tão ambiciosos, o planejamento de médio prazo é essencial, por isso Potes González insistiu na necessidade de ter planos que transcendam os ciclos políticos. “Temos agora que desenhar o plano de saúde digital para os próximos 10 anos. No nível público, devemos trabalhar para que a saúde seja apartidária, inclusiva, com visão de longo prazo e uma política de Estado transversal, com uma estratégia digital que assegure a interoperabilidade”. No nível privado, destacou que alguns desafios para 2030 são integrar e padronizar a qualidade dos provedores, desenhar novos esquemas de financiamento e participar da formulação de políticas públicas. “A saúde deve ser o eixo principal, não o partidarismo político”, concluiu.
Por sua vez, o Diretor Geral dos Hospitais Azura, Carlos Oviedo Rodríguez, concordou que as organizações devem focar no paciente. “O futuro que vejo não vai ser em torno de instituições ou empresas, mas sim em torno do consumidor, além de haver uma integração necessária entre os entes privados e públicos”. E, com base na experiência direta à frente da rede hospitalar, detalhou 3 tendências para o setor: desenvolver novos negócios, firmar parcerias e atrair o consumidor.
Na mesma linha, Rodrigo Saucedo, Líder de Saúde Digital da Fundação Carlos Slim, destacou que “nosso modelo geral é extremamente passivo e focado nos centros de saúde. Quando a pessoa chega, geralmente é tarde; Aí, a saúde digital é essencial porque permite chegar a cada paciente, dar-lhe informação e depois, a partir de uma série de marcadores, personalizar os cuidados e até prever patologias”. A Fundação tem um modelo único de saúde personalizada, uma abordagem centrada na prevenção, mas fundamentalmente na pessoa: de acordo com o seu estado de saúde, o seu contexto pessoal, o seu ambiente. “Graças às tecnologias podemos estar em constante comunicação com a pessoa, o sistema de saúde deve ser participativo para melhor atender os pacientes”, concluiu.
Desafios presentes e futuros
“Os hospitais estão progredindo mais lentamente, mas já sabemos que não há como voltar atrás”, disse Bernardo Altamirano Arvizu, CEO do Grupo Mexicano de Hospitales. O diretor enfatizou que ainda existem desafios em torno de recursos humanos e aceitação de tecnologias. “Temos de perceber que a tecnologia é uma ferramenta, os hospitais precisam acelerar o passo, são poucos os hospitais onde existe um caminho marcado”, insistiu e frisou ainda que a segurança é uma variável crítica que não pode ser desatendida.
Altamirano Arvizu apontou que a pandemia colocou o acelerador na telemedicina, mas no México essa prática ainda não foi consolidada porque os profissionais não se adaptaram totalmente: é um desafio devido aos custos, a situação legal não está totalmente resolvida e geralmente há obstáculos com os acordos com as seguradoras. “Devemos atender aos hospitais que vão além das quatro paredes, aos hospitais líquidos, para levar o cuidado ao paciente que precisa”, concluiu.
Outro desafio está no volume de informações disponíveis. Hoje, o que uma organização de saúde mais gera são dados e essa quantidade aumenta exponencialmente quando novas ferramentas digitais são incorporadas. Se contamos com esses dados, é necessário tê-los disponíveis e acessíveis para uso no momento certo. “No nível político, existe a iniciativa de saúde digital que trabalha a interoperabilidade. Já temos os dados, agora temos que criar um ecossistema que se alimente desses dados e nos ajude a tomar decisões, para aproveitar melhor os recursos que já temos”, disse Francisco Martínez, chefe de Digital Health & Syngo para o México, América Central e Caribe na Siemens Healthineers.
O executivo destacou ainda que as soluções devem ser adaptáveis ao fluxo de trabalho dos médicos, ser intuitivas e incluir campos autopreenchidos para economizar tempo dos profissionais e facilitar a adaptação a essas novas ferramentas. “O mundo dos pacientes é totalmente diferente e agora eles se comportam como consumidores, encontram muito mais acessibilidade e disponibilidade de opções. Portanto, devemos garantir que eles tenham a informação, seus próprios dados, disponíveis e que possam interagir ou ter um papel mais ativo em relação à sua saúde”, concluiu.
Por sua vez, Jonathan Rivera Rosario, Diretor de Tecnologia do Doctors’ Center Hospital Orlando Health de Porto Rico, convidado pela empresa mexicana Bronet, destacou o desafio da integração e apresentou o ponto de vista de sua instituição, que deve se adaptar aos padrões dos Estados Unidos. “Vejo muitos aplicativos, mas não vejo integração com hospitais, com o ecossistema. No meu hospital, temos um prontuário eletrônico (EHR) que integra o sistema de laboratório, cardiologia, sistemas de agendamento de consultas, sistemas externos como telemetria; ao final da internação, o paciente pode fazer um relatório completo de tudo o que aconteceu no hospital. Isso é o que você deve almejar”, disse ele. Além disso, destacou a importância da disponibilidade de informações, já que o paciente tem todas as informações clínicas no celular, o que permite consultar outro prestador, inclusive em outra cidade ou país.
Uma das principais conclusões do evento foi a importância da colaboração e intercâmbio, não só entre os diferentes departamentos de uma mesma organização, mas também entre os setores público e privado, entre especialistas de TI e profissionais de saúde e, acima de tudo, o contato entre o paciente e o setor de saúde para atender às suas necessidades e reconhecer os problemas mais urgentes.
Como vários palestrantes mencionaram, o México verá avanços reais na saúde digital se as políticas públicas acompanharem o processo e os provedores e especialistas compartilharem suas experiências e promoverem soluções comuns.
Siga os links, para ver os 3 vídeos editados do evento no nosso canal do YouTube:
Parte 1: O Futuro do Sistema Nacional de Saúde no México
Parte 2: Palestras da Indústria
Parte 3: Hospitais no México e seus avanços em tecnologias de saúde