A cultura como entrave no marco da transformação digital nos hospitais brasileiros, os fatores que auxiliam a jornada digital e a importância de propósitos claros e alinhamentos definidos como parte da estratégia corporativa foram as pautas em destaque do encontro.
Por Emanuele Katiuska
No primeiro dia do evento digital HIMSS LATAM 2021, a Conferência latino-americana de saúde da HIMSS abriu a seção brasileira com o tema Transformação digital nos hospitais brasileiros. Para discutir o panorama brasileiro de modelos de maturidade em transformação digital foram convidados os Drs. Ary Costa Ribeiro, CEO do Sabará Hospital Infantil, instituição especializada em pediatria, e Elieser Silva, responsável pelo Programa de Transformação Digital do Hospital Israelita Albert Einstein, instituição que é referência na área no Brasil. Com mediação do Dr. Claudio Giuliano, CEO da FOLKS, empresa parceira da HIMSS na América Latina, o evento abordou temas importantes como a cultura como entrave no marco da transformação digital nos hospitais brasileiros, os fatores que auxiliam a jornada digital e a importância de propósitos claros e alinhamentos definidos como parte da estratégia corporativa.
Para o Dr. Ary Ribeiro, o debate sobre o panorama do Brasil em transformação digital deve partir objetivamente da realidade atual em maturidade digital. Hoje, apenas 11% das instituições brasileiras são consideradas como maduras e mais de 70% permanecem em um estado básico (dados da ISOBAR Brasil: IMD – Índice de Maturidade Digital no Brasil em 2019). Esses dados, no entanto, devem servir de base para a definição de um objetivo concreto de evolução em transformação digital a nível país.
Em concordância, o Dr. Elieser Silva afirmou que a situação atual do Brasil pode ser encarada de uma forma otimista, porque existe um caminho a ser perseguido, mas, para percorrê-lo, é indispensável um diagnóstico correto e preciso. Responsável pelos Programas de Transformação Digital no Hospital Einstein, referência no setor, o Dr. Elieser destacou três pontos fundamentais a serem levados em conta ao abordar o cenário brasileiro: o primeiro deles é entender que o processo é mais lento do que se pressupõe; em segundo lugar, é preciso considerar que o Brasil é extremamente heterogêneo, isso leva a que os hospitais que já incluíram no seu planejamento estratégico a transformação digital sejam, ainda, a exceção; o terceiro ponto, que está relacionado às funções dos CEOs e líderes institucionais, traz imbricada uma das barreiras a serem ultrapassadas para a implementação da transformação digital: a barreira cultural. O especialista explicou que as instituições brasileiras são conservadores e encaram a transformação digital e incorporação de tecnologia nos seus serviços como um entrave que pode afastar os seus clientes e que, contrariamente a esta visão, a tecnologia aplicada dentro de uma jornada adequada baseada em qualidade, segurança e experiência, na prática, enriquece os processos institucionais.
O Dr. Ary acrescentou que a cultura pode ser a barreira mais comum e poderosa para inviabilizar um projeto de transformação digital, pois é ela que define uma organização. Por isso, alertou sobre a necessidade de prestar atenção ao aspecto cultural quando da inclusão da transformação digital no planejamento estratégico das instituições. A questão cultural, argumentou, está relacionada com ações ligadas à capacitação, ao envolvimento, ao engajamento que são fundamentais para transformar barreiras em benefícios: “A maioria dos hospitais não tem capacitação adequada das suas lideranças; portanto, tem na cultura um elemento que pode ser um dificultador para a implementação de agendas de transformação digital”, explicou.
Em vista disso, os especialistas destacaram alguns elementos que contribuem com a transformação cultural dentro das instituições. O Dr. Elieser salientou que o Hospital Einstein que trouxe quebras de paradigmas no Brasil e que, para lidar com tecnologias disrruptivas e transformadoras, precisou romper algumas culturas internas. Entre os aspectos que considera importantes para atingir o desentrave cultural, o especialista mencionou a necessidade de captar novos talentos que saibam como promover uma transformação digital; de ter um propósito único e claro, que atenda a objetivos de um desenvolvimento de jornadas únicas para os pacientes, baseadas na qualidade e segurança, utilizando a tecnologia como meio para essa transformação e como fator de mudança de experiências; de aproximar a área de tecnologia às áreas de serviços e, fundamentalmente, de criar um ambiente de segurança psicológica para que “as pessoas que estão produzindo essa transformação se sintam tranquilas em relação ao erro”, explicou.
O Dr. Ary, por sua parte, destacou a necessidade de usar a transformação digital para viabilizar a implementação de estratégias. Atualmente, o Sabará Hospital Infantil está desenvolvendo um sistema integrado de cuidado pediátrico com capacidade para coordenar a assistência pediátrica Locus Vitae (do dia a dia da criança saudável) até a necessidade das mais altas complexidades em pediatria: “Esta estratégia não é viável se não for acompanhada de uma transformação digital; não é possível integrar, prestar cuidado integrado, sem utilizar elementos digitais que mudem processos, agreguem formas de fazer e viabilizem capilaridades e escalabilidades”, afirmou o experto.