No Hospital El Cruce, a tecnologia está presente todo o tempo 

Entrevistas

Por Rocío Bao

Arnaldo Medina é médico especialista em Saúde Pública e exerce o cargo de diretor executivo do Hospital “El Cruce-Néstor Kirchner”, que trabalha em Rede com oito estabelecimentos públicos de Florencio Varela e atende dois milhões de pessoas. 

Anteriormente se desempenhou como diretor de Programas de Saúde e Subsecretário de Planificação de Saúde no Ministério de Saúde da Província de Buenos Aires. Além disso, foi diretor executivo do Hospital de Agudos «»Mi Pueblo»», e presidente da Associação Argentina de Economia da Saúde.

Durante a mesa de debate “Perspectivas da Evolução e Incorporação de Tecnologias para a Saúde”, organizada pela Universidade ISalud, deu uma entrevista exclusiva para a E-Health Reporter Latin America e mostrou sua postura a respeito das TIC, o mercado no país, e os avanços em complexidade do Hospital que administra. 

Em que aspectos considera que o Hospital “El Cruce-Néstor Kirchner” supre as necessidades de ter acesso a um atendimento de alta complexidade no sul da Grande Buenos Aires?

O hospital começou a funcionar em princípios do ano 2008. Antes de sua construção, aqueles que tinham complicações de saúde que superavam tudo aquilo que podia ser feito nos hospitais do segundo nível de atendimento tinham que ser atendidos em La Plata ou na Capital Federal, motivo pelo qual, muitas vezes os pacientes morriam no traslado. Hoje em dia, temos inúmeros casos de pessoas que conseguiram salvar suas vidas graças aos profissionais, ao equipamento e à decisão política de instalar esses recursos em uma das zonas mais carentes da província de Buenos Aires e do país. Eu estou convencido de que a construção e lançamento deste hospital é um grande ato de justiça social.

Em que fase de implementação das TIC o Hospital está?

Realizamos muitos avanços na implementação das novas Tecnologias da Informação e da Comunicação no hospital. Este hospital nasce como um hospital digital, como um hospital sem papéis; temos prontuário médico eletrônico, por exemplo. É um hospital onde a tecnologia está presente todo o tempo; temos 24 sistemas informáticos que registram dados e que estão em processo de integração. O mais recente que implementamos neste sentido é o Portal do Paciente, onde os usuários do hospital podem consultar seus prontuários clínicos, seus históricos de consultas, suas próximos consultas e conselhos úteis, sem ter que dirigir-se ao centro de saúde. Esse site funciona com uma senha que o paciente deve cadastrar por única vez no hospital, com assinatura prévia de um consentimento informado. 

Avançaram com relação à telemedicina?

Estamos avançando em direção a um programa de acompanhamento de enfermidades crônicas. Já começamos a fazê-lo com pacientes com insuficiência cardíaca congestiva, e temos a ideia de começar com os pacientes diabéticos, com os quais nos comunicaremos periodicamente para detectar deterioração na enfermidade, ou para comprovar que se encontram em bom estado e, desta forma, evitar o traslado ao centro de saúde. 

Que tipo de repercussões trouxe para que o estabelecimento tenha sido ponderado pela diretora da OPS como um hospital modelo para toda a região e, que por sua vez, tenha obtido o quinto lugar entre os hospitais mais importantes da América Latina segundo a revista “América Economia”?

Ambas coisas coincidem com o momento de maduração do hospital. Propusemos-nos um primeiro Plano Estratégico para os primeiros 5 anos de funcionamento do hospital. Pudemos cumpri-lo graças aos profissionais, ao compromisso e às condições proporcionadas pelo Governo Nacional, através do Ministério de Saúde da Nação, e chegamos ao momento de maturação em condições realmente favoráveis para continuar crescendo e consolidar-nos como um centro de saúde de referência em diferentes áreas de trabalho.

Quando nos visitou, Carissa Etienne – a diretora da OPS- pôde comprovar que o funcionamento do hospital era ótimo e que se deveria mostrar esta experiência a outros países, pelo qual fomos invitados a Washington para participar do conselho consultivo da CUS (Cobertura Universal da Saúde). Nesse momento, a menção da revista “América Economia” é um reconhecimento para todos os trabalhadores, mas também é um incentivo para concretizar o segundo Plano Estratégico.

O que consideram no Segundo Plano Estratégico?

Nos propusemos a consolidação do logrado até agora, da Rede hospitalar à qual pertencemos, e o avanço claro rumo à conformação de um Hospital Universitário graças à aliança estratégica que desenvolvemos com a Universidade Nacional Arturo Jauretche.

Em seu blog afirmou que as novas possibilidades proporcionadas pelas TIC têm sido um dos fatores essenciais para a mudança de paradigma que predominava nos anos 90, onde a tecnologia era sinônimo de aumento de custos em atendimento à saúde. Em que pontualmente as TIC contribuíram para conseguir essa mudança de paradigma?

Está comprovado no mundo que as TIC não só não aumentam os custos na saúde, senão que, pelo contrário, reduzem os custos em médio e longo prazo. Hoje em dia, as redes vêm para desterrar a ideia de competição entre os hospitais para dar lugar à cooperação entre os centros de saúde, logrando integrar o trabalho que se realiza, por exemplo, no “Mi Pueblo”, no “Evita Pueblo”, no “Oller” e no “El Cruce-Néstor Kirchner”. Neste sentido, as TIC cumprem um papel fundamental. Não se pode trabalhar em Rede se não se está em permanente comunicação e com um contínuo intercâmbio de informação, e isso não se logra hoje em dia sem as novas Tecnologias da Informação e da Comunicação. Sem dúvidas, as TIC chegaram para ficar, e temos que fazer uso delas para tirar o maior proveito para os cidadãos.

Acha que o Hospital “El Cruce-Néstor Kirchner” é o resultado dessa mudança de paradigma?

Sem dúvidas, o Hospital nasce imerso neste novo mundo onde a febre das tecnologias invadiu tanto a vida pública como a privada. O sistema de gestão em Rede, o Governo Clínico, e a Gestão por Processos que implementamos vêm para dar uma resposta à população, com uma nova visão que está imersa dentro destes novos paradigmas de cooperação, de integração, de utilização, e aproveitamento das tecnologias para facilitar a vida da comunidade. 

Na mesa de debate organizada pela Universidade ISalud expôs o problema de mercado que há na Argentina, a que é atribuído?

Em princípio me refiro a um problema de mercado por questões de escala. Ainda estamos longe do volume do mercado de outros países como o nosso vizinho Brasil. Por outro lado, ainda existe um caminho a percorrer nisso de incorporar as TIC na mesma organização do sistema de saúde. É assim, a modo de exemplo, que temos pouco desenvolvimento na incorporação de prontuários médicos eletrônicos, ao que se junta a pouca transparência na informação desses mercados.

Há muitas coisas para difundir, capacitar e regular para que o mercado seja menos assimétrico e todos os serviços de saúde, potenciais usuários destas tecnologias, tenham as capacidades e a informação necessária. Nesse sentido, é relevante, por exemplo, o esforço que está sendo realizado desde a HL7 Argentina, onde o Hospital Italiano de Buenos Aires, entre outros, cumpre um papel muito importante na difusão dos padrões de interoperabilidade dos sistemas. Também é muito acertado o desenvolvimento das residências de informática médica nessa instituição. Também enfatizou no problema cultural com relação à inversão, avaliação da tecnologia e manutenção.

Como lida com esta problemática dentro de um hospital que se erigiu como modelo em complexidade?

Ao problema cultural deve-se responder com uma nova cultura. Por isso, a solução não é simples; por isso, não se resolve somente em um estabelecimento; e por isso, não se resolve em pouco tempo. Existem sinais muito claros desde as políticas públicas a respeito disso, por exemplo, o Programa «»Argentina Conectada»», ou as modernizações que estão acontecendo em diferentes esferas do Estado. Ainda assim, este é um problema que atinge todos os setores do sistema de saúde, sejam públicos ou privados. Como fortaleza, podemos identificar que os profissionais da saúde em geral e os médicos em particular já possuem a tecnologia como um elo inseparável da nossa atividade.

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