As vantagens de informatizar um hospital desde a sua abertura.

Entrevistas

Por Daniela Chueke

Em uma entrevista exclusiva com a EHealth Reporter Latin America, o Dr. Sergio Montenegro conta-nos o caso de êxito implantado pelo departamento de informática do Hospital de Agudos Dr. Ramón Madariaga, na cidade de Posadas, capital da província de Misiones, Argentina.

Este médico de família foi um dos primeiros graduados da especialidade de Informática Médica do Hospital Italiano de Buenos Aires. Atualmente é chefe da Área de Informática Médica da Instituição mencionada.

O Departamento de Informática do Hospital foi criado em novembro de 2009, seis meses antes de abrir as suas portas ao público.

O mesmo está a cargo de Paul Guccione, quem ocupou-se de conformar a equipe inicial do Departamento e de realizar a planificação do equipamento tecnológico do hospital. Atualmente, seu maior desafio é o Projeto de Informatização Provincial. O Departamento é responsável por todas as áreas de informática, incluindo tanto os processos clínicos como os administrativos, de gestão, investigação e educação. Responsabiliza-se também por toda a manutenção dos serviços de telefonia, hardware e segurança.

Para saber mais sobre os seus planos e desafios, vejamos as perguntas e respostas:

 

Ehealth Repórter Latin America: Qual é a relevância da implantação do sistema de identificação rápida do paciente dentro do projeto de gestão clínica do hospital?

Dr. Sergio Montenegro: O sistema de identificação rápida de pacientes oncológicos é uma das funcionalidades mais importantes de um módulo de nosso sistema que se chama «»Registrador de pacientes»». Esta ferramenta pode identificar pacientes com determinadas características (oncológicos, diabéticos, hipertensos, HIV positivos) e agrupá-los em um padrão determinado, para depois poder interveni-los em forma dirigida e adequada. Este sistema tem um grande potencial de aplicação no projeto de gestão clínica institucional, porque pode ser aplicado em diferentes problemas de saúde (doenças oncológicas, infecciosas, cardiovasculares crônicas não-transmissíveis, etc.).No caso dos pacientes oncológicos, está sendo aplicado sobre um problema de grande prevalência em nossa população, produzindo conotações não apenas clínicas, mas também sociais.

 

 

EHRLA:Em que contribui para melhorar o modelo de atendimento e a eficácia da gestão?

SM: Atualmente existem 130,190 pacientes identificados no SIS – Sistema de Informação em Saúde da Instituição, o que corresponde a 11,8% da população total de Misiones (1.101.593 segundo o Censo 2010-INDEC). Até antes da implantação do registrador de pacientes, era muito difícil saber quais desses pacientes tinham câncer, lesões pré-neoplásicas, cardiovasculares, etc. Também não sabíamos quantos eram, quais características demográficas tinham, o quanto consultavam a instituição, em quais especialidades, nem que gastos geravam. Desde a implantação do Registrador, a maior parte destas questões estão sendo resolvidas.

Além disso, a implantação desta funcionalidade permitiu acelerar o atendimento, e os procedimentos diagnóstico, terapêuticos e de seguimento, resultando não só em benefício para o próprio paciente, mas também para a família, onde o tempo de espera para o atendimento é mais curto, lembrando que uma importante e crescente faixa populacional que é atendida em nossa instituição, é do interior, de recursos muito escassos.

 

 

EHRLA: A partir do seu uso, quais mudanças visíveis foram produzidas até agora?

SM: O uso eficaz dessa ferramenta conseguiu conformar um padrão de pacientes oncológicos que inclui atualmente 682 pacientes e outro de pacientes com lesões pré-neoplásicas, na qual  546 casos atuais encontram-se registrados. Além disso, sobre os padrões mencionados foram incorporadas diferentes funcionalidades: 1) Alertas Visuais ao Sistema para médicos e administrativos, para que em qualquer lugar do hospital, o paciente seja identificado rapidamente  pela sua condição, para um tendimento mais eficiente, 2) Mudanças nos processos de atendimento: normas foram implantadas a partir da Direção do Hospital para que médicos e administrativos, atendam os pacientes oncológicos ou com lesões pré-neoplásicas prioritariamente. Com isso logrou-se evitar que esses pacientes passem longas horas em salas de espera, junto aos pacientes que talvez tenham algo menos grave, com a melhora consequente  na qualidade de vida das pessoas afetadas. Por outro lado, conseguiu-se gestionar consultas diagnósticas em um prazo mais curto. Antes da implantação dos padrões, um paciente com uma lesão pré-neoplásica, podia demorar até 6 meses para completar o circuito diagnóstico. Hoje conseguimos reduzir esse tempo para menos de um mês. O mais importante é que todas essas melhorias no atendimento nos permitem reduzir as taxas da morbimortalidade por câncer, através de um diagnóstico precoce. Além disso, quando o médico vê em sua própria lista de consultas que estão agendadas, consultas com pacientes com câncer ou lesões pré-neoplásicas, possam priorizar o seu atendimento atendendo-os primeiro, 3) Relatórios Estatísticos: as bases foram lançadas para a geração de estatísticas locais sobre este tipo de pacientes , os quais permitem obter informação rápida para a tomada de decisões e facilita a geração de evidências. A partir destes relatórios, é possível encontrar online, ou seja, instantaneamente (através de um clique), a quantidade de membros do padrão, dados pessoais de cada um de seus membros, características demográficas de cada padrão, serviços médicos que consultam, problemas de saúde que consultam.

 

EHRLA: Esperam-se outras mudanças que por enquanto não puderam ver-se realizadas?

SM: Até agora não foram quantificadas com precisão, o impacto no processo de atendimento desses pacientes, pela falta de definição de indicadores de processo. Nós temos planejado trabalhar nisso neste ano, para poder monitorar o processo de atendimento desses pacientes, para que baseado nisso, poder monitorá-los e estabelecer programas de melhoria contínua.

Outra das metas a serem alcançadas em breve, é poder calcular os custos que implicam este tipo de pacientes para o nosso sistema de saúde. Isto não só será aplicado sobre os pacientes com câncer, mas também sobre aqueles pacientes com doenças crônicas como diabete, hipertensão arterial, DPOC – Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, Insuficiência Renal Crônica, etc, onde a prevenção e controle dessas doenças têm um papel preponderante no controle do gasto.

Embora esta instituição esteja trabalhando com pacientes agudos, entendemos que para ter uma melhor gestão dos recursos é necessário melhorar o controle sobre os pacientes crônicos.

 

EHRLA: Encontraram obstáculos na implantação do sistema?

SM: Um dos maiores obstáculos encontrados até agora, é a «»mudança organizacional»», algo comum em todos os processos de informatização. Mudar a cultura institucional, sempre, é o mais trabalhoso. Para isso, trabalhou-se arduamente no processo de capacitação e conscientização de toda a equipe de atendimento, além do desenvolvimento de sistemas de auditorias que permitiam monitorar os usuários com menor aderência ao registro médico.

Também, as falências na qualidade do registo, foram e continuam sendo um obstáculo. Ao começar a analisar a informação registrada, encontramos-nos com registros incompletos, e muitas vezes de má qualidade. Devido a isso, as conclusões as quais poderia chegar através da informação extraídas do sistema, eram deficientes e incompletas. Neste caso, as ferramentas de auditoria também nos ajudou a melhorar isso, pois permitiram monitorar a qualidade do registro  e aos mesmos usuários, e a partir disso, criar indicadores de uso que foram mostrados para os mesmos usuários, em forma de um semáforo, para que eles mesmos se tornassem conscientes dos seus próprios erros. Este semáforo tem uma determinada cor, de acordo com o número de erros cometidos num determinado período, que foi estabelecido em um mês.

 

EHRLA: Quais são os limites e as potencialidades do sistema para produzir mudanças no hospital e na eficácia no atendimento aos pacientes?

Os limites do sistema encontrados até o momento são, por um lado, organizacionais, devido à falta de conscientização que alguns agentes ainda apresentam e, por outro lado, existe um certo limite de recursos, que não permite generalizar massivamente esta ferramenta para o resto das instituições públicas para obter os mesmos benefícios. Pelo menos até agora. Por mais que esteja planificado fazê-lo no futuro, encontramos muitos obstáculos desse tipo.

Quanto às potencialidades do sistema para produzir mudanças no hospital e melhorar a eficácia do atendimento, acho que podem chegar a ser infinitas. Tudo depende de até onde você quiser ou puder chegar, e entre outras, dos recursos disponíveis.

 

EHRLA: Quem foi o responsável do desenvolvimento da solução?

SM: O Hospital possui uma equipe de desenvolvimento próprio, multidisciplinar, composta por 22 pessoas. Essa equipe é coordenada por um chefe e conformada por uma equipe técnica, administrativa, de capacitação,desenvolvedores, administradores de redes e bases de dados e um médico especialista em Informática Médica.

Atualmente está sendo usado o software de Prontuários Médicos da empresa «»Sistemas Clínicos Web»», que se baseia nos conceitos promulgados pelo Departamento de Informática em Saúde do Hospital Italiano de Buenos Aires, que atualmente é a instituição com maior desenvolvimento em Informática Medicina na Argentina. Este software foi tomado pela equipe de desenvolvimento do hospital para adaptá-lo à realidade institucional e, em breve, será gradualmente substituído por um desenvolvimento próprio mais avançado, que será implantado no resto das localidades da província de Misiones.

EHRLA: Como foi o processo de desenvolvimento do sistema?

SM: O processo de desenvolvimento foi muito rápido, porque partiu-se de uma solução que já estava desenvolvida, fornecida pela empresa «»Sistemas Clínicos Web»». Em 6 meses foram adaptados e desenvolvidos os módulos com os quais o «»Novo Hospital Escola de Agudos Dr. Ramon Madariaga»» abriu suas portas pela primeira vez, o qual registrou os seus pacientes desde um primeiro momento nos Prontuários Médicos Eletrônicos. Isso foi em março de 2010.

Este sistema está desenvolvido com ferramentas Open Source, utilizando como motor de base de dados o MySQL e como linguagem de programação a PHP, Ajax e javascript. O sistema é muito flexível, escalável e facilmente adaptável.

EHRLA: Como foi financiado?

SM: O principal financiamento deste projeto provém da Província de Misiones, através do Ministério da Saúde Pública e do mesmo hospital, os quais fizeram um grande investimento inicial em infra-estrutura tecnológica, e nos Recursos Humanos que administram e mantêm o sistema.

O sucesso na implantação do sistema, deve-se em parte ao compromisso e à capacidade técnica das pessoas que lideram o projeto, e ao grande trabalho de capacitação e  auditoria que é realizada diariamente.

Por outro lado, o apoio académico incondicional dado pelo Departamento de Informática em Saúde  do Hospital Italiano resulta invaluável, o qual facilita indiretamente o crescimento do projeto.

EHRLA: Como a implantação do novo sistema foi trabalhada com a equipe médica do hospital ?

SM: Nós tivemos a vantagem de que o Hospital abrisse as suas portas com o sistema já em uso, com o qual era um requisito, para o médico que começava a trabalhar, usar o sistema para poder ser aceito como equipe profissional.

Por outro lado, tivemos um forte apoio do Ministério da Saúde e de toda a Direção Médica para poder avançar com a implantação, portanto, não tivemos tanta resistência política dos Serviços.

Além disso, temos uma área de treinamento que foi responsável por padronizar este processo no Hospital. Esta medida fez com que todos os usuários que precisam usar o sistema, devem realizar os cursos de capacitação correspondentes, e aprová-los, para poder obter sua senha de acesso ao sistema. Além disso, para a entrega da senha, exigia-se assinar um acordo de confidencialidade, onde o informavam sobre a importância da privacidade e confidencialidade dos dados que são acessados através da senha de acesso.

Por último, na implantação, usamos alguns indicadores de uso que nos permitem quantificar e qualificar o uso do Registro a fim de identificar aqueles usuários que não usam o sistema, ou os que usam errado, para voltar a capacitá-los ou procurar estratégias de aderência ao registro.

EHRLA: Que outros projetos estão arquivados no departamento de Informática do Hospital?

SM: Um dos maiores projetos que o Departamento de Informática está enfrentando atualmente, é a informatização do resto dos Hospitais Públicos da Província, para criar o Prontuário Médico em nível provincial.

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