O sistema público da saúde brasileira tem muito potencial para melhorar

Entrevistas

Na foto: Marcos Garcia, vicepresidente de Cerner Brasil y Miriam Poves, Marketing Manager, Cerner Iberia y Latinoamérica

Por Camila Gomes

No estande da Cerner na Feira Hospitalar 2013, em São Paulo, o vice-presidente Marcos Garcia recebeu a E-Health Reporter Latin America para uma conversa sobre as novidades da marca e a expansão para o mercado latino-americano. Com espírito inovador, a organização de soluções de TI para área da saúde apresentou novidades durante o evento.A empresa americana que hoje tem 1600 clientes em 24 países agora foca no mercado brasileiro para possíveis parcerias. Confira abaixo a entrevista do Vice-Presidente da empresa sobre os caminhos da Cerner na América Latina.

E-Health Reproter Latin America: Quais são as novidades apresentadas pela Cerner na Feira Hospitalar 2013 e que projeções têm para a América Latina?

Marcos Garcia: Queremos contribuir com a melhor gestão de hospitais e de saúde em geral através das soluções e ferramentas da Cerner. Somos uma empresa com 1600 clientes no mundo todo, em 24 países. É uma empresa de origem norte-americana, mas com uma presença importante na Europa e na Ásia. A maioria dois funcionários da Cerner está fora dos Estados Unidos. Na América Latina, ainda temos um número de clientes pequeno, mas estamos percebendo que há um interesse muito grande pela nossa tecnologia. Por duas razões, principalmente: a primeira é que na América Latina há hospitais de prestígio em nível mundial, que sabem que para praticar a medicina não só precisam da melhor máquina de raio-x, mas também de um sistema de tecnologia de informação de primeira ordem. Estes clientes estão interessados sob o ponto de vista da excelência. Outra fonte de interesse que vemos na América Latina são organizações de saúde que dizem que se dão conta que o sistema é insustentável, porque há uma demanda ilimitada com recursos limitados. Eles querem usar a tecnologia da informação para aplicar os recursos onde mais podem ajudar.  Nossa experiência na Europa é muito apropriada sob este aspecto, como na Espanha e no Reino Unido. Nesses dois pontos, estamos vendo muito interesse por parte da América Latina e acreditamos que vamos ter muito sucesso.

EHRLA: A tecnologia da Cerner é a mesma em todos os países?

MG: Nossa tecnologia é adaptável. Nosso software é o mesmo para todos os países, então é um sistema altamente configurável, porque há diferenças de um país para outro, especialmente sob a ótica da faturação e da legislação de cada país. Mas há também outros fatores que são iguais. Nós investimos 400 milhões de dólares por ano no desenvolvimento de novas funcionalidades para nosso software, e é muito difícil que um pequeno provedor local consiga competir com esse tipo de investimento.

EHRLA: Que tipo de suporte a Cerner dá aos clientes?

MG: Temos escritório de suporte em países diferentes e com isso damos assistência 24 horas por dia em todos os idiomas onde temos clientes. Se há, por exemplo, um cliente no Chile que tem um problema muito detalhado e teria que falar com o suporte em inglês, nós temos um sistema de tradução simultânea para assegurar que nossos clientes consigam dizer o que precisam. Com esse interesse que há por parte da indústria da saúde na América latina pela excelência e pela eficiência, com nossa capacidade inovadora e nossa experiência , pensamos que a América latina pode ser um mercado importante nesse momento.

EHRLA: E esse é o objetivo no momento?

MG: Sim, e é por isso que estamos aqui na Hospitalar. Temos dados de nossos clientes que mostram que nossa tecnologia economiza dinheiro, salva vidas e permite prestar serviços de saúde de maneira mais eficiente. Na Hospitalar queremos compartilhar essas informações com as pessoas que superar esse medo de gastar muito dinheiro em tecnologia sem ter resultados. Com todo o investimento, a cada no temos algo novo para mostrar. Hoje temos uma maneira de conectar dispositivos a história clínica para que quando as enfermeiras tiram a temperatura  e outros dados do paciente, não tenham que escrever elas mesmas os resultados no computador – o monitor manda o resultado automaticamente à história clínica. Isso economiza cinco minutos por paciente, mas se calcularmos os custos, o retorno do investimento fica muito claro.

EHRLA: Que outros projetos têm para a América Latina em breve?

MG: Agora estamos tentando fechar uma parceria com nosso primeiro cliente no Brasil, que acredito que será importante, porque é um idioma diferente e é uma vitrine.

EHRLA: O idioma é uma barreira?

MG: Queremos extinguir qualquer razão que haveria ara não adotar as tecnologias. O software está sendo traduzido para o português agora e temos investido para poder trabalhar com qualquer país da América do Sul.

EHRLA: Como vocês lidam com a mudança cultural que a empresa precisa fazer para implantar os sistemas?

MG: Nós procuramos acompanhar cada empresa e não fazemos uma imposição de tecnologia para praticar a medicina. Temos uma metodologia de implantação dos sistemas com uma série de eventos onde recomendamos que envolvam os clínicos, porque os médicos precisam se dar conta dos benefícios que os sistemas podem lhes trazer. Só assim estarão interessados no projeto, se perceberem que é um sistema para eles mesmos e tomarem essas decisões por si. Afinal, o médico quer que o sistema lhe ajude a fazer seu trabalho, então é muito importante também que os profissionais comecem a enxergar os benefícios.

EHRLA: Qual é o atrativo do mercado de saúde do Brasil?

MG: Vejo o mercado de saúde no Brasil em três segmentos diferentes: há um mercado dos hospitais prestigiados, como o Albert Einstein, que são iguais aos nossos clientes norte-americanos. Há um segundo grupo de possíveis clientes como Unimed, Amil, que são as seguradoras que estão interessadas em gerir todos seus membros. E o terceiro objetivo seria o sistema público, que para nós seria um cliente mais complexo, pelo tamanho, mas há muito que melhorar aí. A maioria das pessoas no país depende do sistema público e há muito potencial para melhorar.   Brasil é uma economia forte que está crescendo, e tem a oportunidade de aprender com as lições da Europa e dos Estados Unidos.

EHRLA: Cerner tem planos de expansão em outros países?

MG: Temos clientes no Chile e no México e agora estamos procurando nosso primeiro cliente no Brasil. E estamos abertos a outros países na América Latina também, como Colômbia, Peru. Já estamos em 24 países e queremos estar em cada vez mais.

EHRLA: Quais são os principais impedimentos que a empresa enfrenta ao aterrissar na América Latina?

MG: Às vezes há uma desconfiança em relação aos provedores de outros países e isso, historicamente, no mundo do software é mais problemático, porque temos que demonstrar o valor do que oferecemos. E mostrar que o fato de ter clientes em 24 países é uma vantagem. Com o software às vezes querem tê-lo mais sob controle, então o que fazemos quando entramos em um país, diferente de ouras empresas, é criar um escritório com uma equipe da Cerner no país em questão para trabalhar diretamente com o cliente. Queremos que o cliente, caso tenha qualquer problema, fale conosco diretamente, e não com um intermediário.

EHRLA: Quanto demora a implementação do sistema desde o momento de fechar o negócio até que ele esteja funcionando?

MG: Para automatizar um hospital inteiro, eu diria que leva dez a quatorze meses. Há pessoas que podem achar que isso é muito tempo, mas o que estamos fazendo é trabalhar com o cliente na transformação da maneira que trabalham, então estamos convencidos de que é necessário tomar esse tempo. Se for solicitado que o sistema esteja completo em seis meses, e o cliente achara que pode manter o ritmo, podemos fazê-lo, mas no fim das contas esses complexos são complexos e levam tempo.

EHRLA: Quem são os principais concorrentes de mercado da Cerner?

MG: Há poucos concorrentes que encontramos em todos os países onde estamos presentes. Nos EUA temos alguns concorrentes do mercado norte-americano que tem pouca presença fora de lá. Já na Europa temos concorrentes como a Siemens ou empresas de diagnósticos que entram no ramo de softwares, e empresas locais na América Latina e na Espanha.  Mas nós somos a empresa dedicada às tecnologias de informação da saúde com o maior número de clientes no mudo todo. 

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