Em um espírito Pós-pandemia, a conferência HIMSS22 convocou a reimaginar a saúde com foco na equidade.

Coberturas PT Notícias

As novas ferramentas digitais não devem ampliar mas sim reduzir as disparidades de acesso, reivindicaram vários expositores no encontro que ocorreu em Orlando, Estados Unidos.

Após três longos anos, depois da abrupta suspensão do evento em março de 2020 devido à pandemia e da celebração da edição de 2021 em agosto passado, a tão esperada HIMSS Global Conference & Exhibition, na sua data tradicional, reuniu mais uma vez milhares de profissionais e executivos dos setores da saúde, informação e tecnologia no Orange County Convention Center, em Orlando, Estados Unidos, os quais também tiveram a oportunidade de participar de qualquer lugar do mundo por meio de uma versão digital do encontro com mais de 30 horas de conteúdo (HIMSS22Digital).

Com oito parâmetros educativos principais das sessões (Negócios, Cuidados, Dados e Informação, Governança Organizacional, Processo, Política, Tecnologia e Força de Trabalho), o lema do encontro foi “reimaginar a saúde”, especialmente quando a COVID-19 expôs muitas ineficiências do setor e o peso que os determinantes sociais e estruturais (como raça e gênero) têm nos desfechos da saúde, mas também a oportunidade que se abre para impulsionar a transformação digital com forte foco na equidade.

“Reimaginar a saúde é um chamado à ação. E, ao fazê-lo, devemos pensar na equidade global em saúde. Tornar a saúde justa para todos”, disse na abertura, o presidente e CEO da HIMSS, Hal Wolf, para quem não houve setor de saúde que não tenha sido impactado pelo COVID-19, atuando em alguns casos como catalisador para a ruptura de certos paradigmas (como o atendimento baseado em encontros presenciais).

Wolf transmitiu uma mensagem do Papa Francisco aos participantes do HIMSS22, depois de uma audiência privada com o pontífice em Roma: “No contexto dos atuais desafios colocados pelas desigualdades econômicas e sociais, Sua Santidade confia que as decisões e deliberações destes dias serão atenção ao direito de todos, especialmente os pobres e mais vulneráveis, de ter acesso a cuidados de saúde essenciais e eficazes.

A aspiração e o compromisso com a equidade permearam muitas das exposições. “A tecnologia é um catalisador para a equidade em saúde. Devemos ser intencionais e devemos ser humanos. A equidade deve ser incorporada em todas as unidades de negócios”, disse Ankoor Shah, Ph.D., MBA e Mestre em Saúde Pública, Diretor da Área de Equidade em Saúde da Accenture, que apresentou resultados de uma pesquisa conjunta com a HIMSS Market Insights que revela que nove de cada dez executivos do setor nos Estados Unidos dizem que a equidade em saúde é uma prioridade e estratégia de negócios chave, mas apenas pouco mais de um terço tem um orçamento específico para apoiar essa ação.

Maior equidade também deve vir da inovação, disseram o médico John Halanka e o editor Paul Cerrato, presidente e analista de pesquisa sênior da Mayo Clinic Platform, respectivamente, que enfatizaram a importância de validar ferramentas digitais em saúde (por exemplo, algoritmos de inteligência artificial) para melhorar sua precisão, verificar sua capacidade de desempenho para os fins para os quais foram desenvolvidos e garantir que sejam eqüitativos, uma abordagem que definiram como “Saúde Digital 3.0”. “O novo nem sempre é o melhor”, alertou Cerrato. “E tem o potencial de criar disparidades.”

Também foram realizadas sessões destinadas a promover a equidade e a diversidade na força de trabalho. “A diversidade e a inclusão são boas para os negócios”, disse Aashima Gupta, cientista da computação nascida na Índia com pós-graduação em educação médica por Harvard que lidera a área de Estratégia e Soluções de Saúde Global do Google Cloud.

Outra palestrante, Joan Higginbotham, a terceira astronauta afro-americana a ir ao espaço, usou sua participação na missão STS-116 em 2006 para demonstrar como reunir pessoas e equipes de diferentes origens, formações e experiências para realizar um projeto comum é uma das fórmulas para o sucesso. Seja no espaço ou em instalações de saúde, a humanidade pode alcançar grandes coisas quando trabalha em conjunto, sugeriu.

Afrontar as lacunas da equidade

As lacunas de equidade da saúde não são o resultado de não ter dados suficientes, mas de erro humano, concordaram os palestrantes de outra sessão, “Advancing Health Equity Through Powerful Technology Solutions” (Avançando na equidade em saúde através de poderosas soluções tecnológicas). Como Susan Morse, editora executiva do Healthcare IT News , comentou: “Não são os dados que criam a desigualdade, são as pessoas”.

Um deles, o Dr. Daniel Low, anestesista pediátrico do Seattle Children’s Hospital em Seattle, Estados Unidos, e diretor médico da AdaptX, contou que um clínico decidiu detalhar e avaliar cada etapa do processo de atendimento uma por uma (desde a triagem até atribuição de leitos e realização de tomografia computadorizada) para entender por que os pacientes afro-americanos acessaram o tratamento do AVC 20 minutos mais tarde do que os brancos. E conseguiu corrigir essa desigualdade de atenção em três meses, destacou.

“Realmente precisamos ser muito mais objetivos e determinados com a forma como definimos o que significa equidade em saúde no contexto da saúde digital”, disse o Dr. Keisuke Nakagawa, MD, Diretor de Inovação da UC Davis Health Digital CoLab e CEO de seu novo Cloud Innovation Lab, desenvolvido em parceria com a Amazon Web Services .

Nakagawa lembrou que, embora a telemedicina tenha sido uma solução generalizada para sustentar o atendimento em 2020, também havia pessoas vulneráveis que não conseguiram acessar essa ferramenta ou deixaram de receber práticas de triagem ou outros benefícios assistenciais. “Temos que estar muito atentos a qualquer momento dado em nossa tecnologia. Quem são os pacientes que ficam para trás? Quem são os médicos deixados para trás? Quais são os sistemas de saúde que ficam para trás?

Conectar e comunicar

Outro dos palestrantes estrela foi Ben Sherwood, ex-codiretor da Disney Media Networks e presidente do Disney-ABC Television Group, que também resgatou a dimensão humana e disse que duas palavras são o segredo do sucesso: “Só conectar” (basta fazer conexões).
“É preciso muita energia para conhecer outra pessoa. Leva muito tempo para desacelerar por um segundo, interromper suas transmissões, desligar seus dispositivos e conversar. Mas acho que se você deseja alcançar o que deseja, se deseja ser um líder em um momento de disrupção, a conexão é o que o levará adiante.”

No encerramento do evento, o nadador Michael Phelps, o atleta que mais conquistou medalhas olímpicas, falou sobre o inferno da depressão (“Você sente que é o único no mundo que passa por isso”) e convocou os participantes do HIMSS22 para criar condições para que pacientes e funcionários discutam livremente seus problemas de saúde mental.
“Incentive as pessoas a se abrirem para encontrar a ajuda que merecem e precisam. A comunicação salvou minha vida e é a única maneira de quebrar o estigma”, insistiu.

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